Mundo
Brasil cobra critérios claros e evita apoio a novos países no Brics – incluindo a Venezuela
O País foi o único a não sugerir futuros membros; recuo em relação a Caracas marca novo capítulo no distanciamento diplomático


A Cúpula do BRICS, o grupo de países emergentes que inclui Brasil, Rússia, China e outros, está acontecendo em Kazan, na Rússia, com a missão de acelerar o processo de expansão do bloco. Há uma expectativa pela adesão de novos países, como a Venezuela, embora o Brasil não apoie essa ideia.
Um dos objetivos do encontro na Rússia, liderado por Vladimir Putin, é criar um grupo de membros associados ao BRICS. Esses países teriam acesso às reuniões, mas não teriam poder de veto. O plano é que esse grupo inicial conte com dez países.
Cada país-membro do BRICS apresentou suas sugestões, mas o Brasil optou por não propor nomes, segundo fontes do Itamaraty ouvidas por CartaCapital. Foi o único país do bloco a não sugerir novos membros.
Nos últimos dias, cresceu a expectativa de que o Brasil não endossaria a entrada da Venezuela no BRICS. Na segunda-feira, dia 21, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, afirmou à CNN Brasil que não apoiava a adesão do país sul-americano: “Acho que tem que ir devagar. Não adianta encher de países, senão, daqui a pouco, vira um novo G-77”.
Interlocutores do Ministério das Relações Exteriores afirmam que a diplomacia brasileira se opõe à inclusão de países por meio de listas e defende a necessidade de critérios claros para a expansão do grupo.
A chancelaria brasileira argumenta que novos nomes só devem ser considerados após o fim do processo de negociação, atualmente conduzido pela Rússia. A expectativa é que os países escolhidos sejam anunciados na próxima quarta-feira, 23.
Negociações no BRICS
A China lidera o processo de expansão do BRICS. Este ano, o grupo já recebeu Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã como novos membros.
No ano passado, o Brasil apoiou a entrada desses países. Quanto à Venezuela, o presidente Lula (PT), em reunião com o venezuelano Nicolás Maduro, chegou a afirmar que “se perguntassem a minha vontade, eu sou favorável” à inclusão da Venezuela.
No entanto, o freio nas intenções venezuelanas reflete um novo capítulo no distanciamento diplomático entre Brasília e Caracas, intensificado pelas suspeitas de fraude nas eleições presidenciais da Venezuela, em julho.
Maduro foi reeleito para um terceiro mandato em um pleito marcado por denúncias de perseguição a opositores. O principal candidato de oposição, Edmundo González Urrutia, pediu asilo na Espanha para evitar a prisão na Venezuela.
As autoridades eleitorais venezuelanas se recusaram a divulgar as atas detalhadas das votações, o que fortalece as acusações de fraude. Publicamente, Lula já cobrou a divulgação desses documentos e criticou o desmonte das instituições democráticas no país.
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