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Irã acusa Israel e EUA por ataque que deixou quase 100 mortos

O Departamento de Estado norte-americano, por sua vez, negou que Washington e Tel Aviv estejam por trás das explosões

Registro após as explosões no Irã, em 3 de janeiro de 2023. Foto: Tasnim News/AFP
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O Irã acusou Israel e os Estados Unidos pela dupla explosão que deixou pelo menos 95 mortos no sul do país, onde uma multidão se reuniu para homenagear o quarto aniversário da morte do general Qasem Soleimani.

As explosões ocorreram em meio à tensão no Oriente Médio, um dia depois que o número dois do Hamas foi morto em um ataque em Beirute, atribuído por autoridades libanesas a Israel.

As explosões, que ocorreram com cerca de 15 minutos de diferença, aconteceram perto da mesquita Saheb al Zaman, onde está o túmulo de Soleimani, na cidade de Kerman. Ninguém reivindicou o ataque até o momento.

“Washington diz que os Estados Unidos e Israel não tiveram nada a ver com o atentado terrorista em Kerman, Irã. Sério? (…) Não se enganem. A responsabilidade por este crime recai nos regimes americano e sionista, e o terrorismo é apenas uma ferramenta”, declarou Mohammad Jamshidi, conselheiro do presidente iraniano Ebrahim Raisi.

Os Estados Unidos negaram qualquer envolvimento de Israel ou de seu próprio governo, e um alto funcionário afirmou que “parece um ataque terrorista, do tipo de coisas que o EI [Estado Islâmico] fez no passado”.

Israel, inimigo declarado do Irã, não comentou o ataque. “Estamos focados na luta contra o Hamas”, declarou o porta-voz do exército, Daniel Hagari.

A agência oficial de notícias Irna informou que 103 pessoas morreram e a televisão estatal afirmou que 211 pessoas ficaram feridas, algumas em estado crítico.

Posteriormente, o ministro da Saúde do Irã, Bahram Eynollahi, revisou a cifra e declarou que “o número exato de mortos no atentado terrorista é 95”.

Segundo a Irna, a primeira explosão ocorreu a 700 metros do túmulo de Soleimani, morto aos 62 anos em um ataque em 2020 com um drone americano nos arredores do aeroporto de Bagdá, no Iraque, e a segunda a um quilômetro de distância.

Imagens divulgadas pela internet mostraram a multidão tentando fugir do local enquanto o pessoal de segurança isolava a área.

A agência de notícias iraniana Tasnim afirmou que “duas bolsas com bombas explodiram”. “Os autores (…) aparentemente detonaram as bombas remotamente”, acrescentou.

“Resposta dura”

“Estávamos caminhando para o cemitério quando, de repente, um veículo parou atrás de nós e uma lata de lixo contendo uma bomba explodiu”, declarou uma testemunha à Isna.

A República Islâmica decretou um dia de luto nacional na quinta-feira e o presidente Ebrahim Raisi, que cancelou uma viagem prevista para a Turquia para esse mesmo dia, condenou o ataque “odioso”.

O guia supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu, nesta quarta-feira, uma “dura resposta” aos “malvados e criminosos inimigos da nação”.

Ao anoitecer, a multidão voltou ao local da explosão, gritando “morte a Israel!” e “morte aos Estados Unidos!”.

“Condenamos o amargo incidente terrorista de hoje. Espero que os autores do crime sejam identificados e castigados por seus atos”, declarou a filha de Soleimani, Zeinab.

Em um comunicado, o governo venezuelano, importante aliado do Irã na região, condenou “nos termos mais enérgicos” o ataque e pediu que “os responsáveis por um ato tão repudiado sejam punidos”.

O presidente russo, Vladimir Putin, condenou nesta quarta-feira o ataque, classificado como “escandaloso por sua crueldade e seu cinismo”. O Iraque o qualificou de ato “terrorista”, assim como a União Europeia, que expressou “solidariedade ao povo iraniano”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou “categoricamente” as explosões.

O Hamas, aliado do Irã, denunciou o “atentado criminoso”, enquanto a chancelaria saudita expressou sua “solidariedade com o Irã neste acontecimento doloroso”.

Conspirações “terroristas”

Há tempos, o Irã trava uma guerra nas sombras de assassinatos e sabotagem com seu inimigo Israel, além de combater vários grupos jihadistas e armados.

Em setembro, a agência de notícias Fars informou que uma “operação” chave vinculada ao grupo Estado Islâmico, encarregado de realizar “operações terroristas” no Irã, foi detida em Kerman.

Em julho, os serviços de Inteligência iranianos declararam que desarticularam uma rede que, segundo eles, estava “vinculada à organização de espionagem de Israel” e que planejava “operações terroristas” em todo o Irã, incluindo “uma explosão no túmulo” de Soleimani, segundo a Irna.

O general Soleimani, chefe das forças Quds da Guarda Revolucionária – o Exército ideológico do Irã -, era o encarregado das operações exteriores iranianas, especialmente no Oriente Médio.

Soleimani era uma das personalidades públicas mais populares do país e considerado um herói por seu papel na derrota do grupo Estado Islâmico tanto no Iraque quanto na Síria.

Os Estados Unidos e seus aliados o consideraram durante muito tempo um inimigo declarado.

Após sua morte, em 2020, o aiatolá Ali Khamenei, que costumava se referir a Soleimani como “mártir sobrevivente”, decretou três dias de luto nacional.

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