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As relações ‘espinhosas’ que podem atrapalhar cúpula UE-CELAC

Nos próximos dias, representantes dos dois blocos devem discutir acordos entre mercados e temas como sustentabilidade

Reunião da Celac realizada em 2016, no Equador; na ocasião, Brasil foi representado pela então presidenta Dilma Rouseff - Foto: Roberto Stuckert-Filho/PR
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A União Europeia  espera que a cúpula em Bruxelas com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) permita a retomada da relações entre as duas regiões, mas o bloco europeu tem questões “espinhosas” com Nicarágua e Venezuela que podem atrapalhar o diálogo.

No evento, que acontecerá na segunda e terça-feira 17 e 18, os governantes pretendem discutir temas como as relações comerciais, uma reforma na composição do sistema financeiro internacional, a mudança climática e as transições energética e digital. Além disso, os negociadores europeus pretendem fazer menção à guerra na Ucrânia.

Os mandatários de ambos os blocos se reúnem pela primeira vez desde 2015 e há novos pontos de divergência.

A chanceler do México, Alicia Bárcena, que representará seu país no evento, advertiu na seuta-feira que a reunião “não vai ser fácil”.

As relações da UE são especialmente tensas com Nicarágua – desde a repressão dos protestos de 2018 – e Venezuela, pois os países do bloco europeu consideram que houve irregularidades na eleição em que Nicolás Maduro obteve seu segundo mandato.

Conjunto muito diverso

“A UE está diante de um conjunto bastante diverso de países com diferentes ambições e sensibilidades políticas. E, em alguns casos, mantém relações limitadas e espinhosas como com Nicarágua e Venezuela”, explicou à AFP Christopher Sabatini, pesquisador da Chatham House.

Com a Nicarágua, a UE tem uma relação tensa, marcada pelas sanções impostas a vários nomes do alto escalão, entre eles a esposa do presidente Daniel Ortega e vice-presidente Rosario Murillo, que está proibida de entrar em território europeu.

Nesse contexto, os vínculos se caracterizaram por uma sequência de crises diplomáticas.

Com relação a Caracas, a UE defende uma solução “pacífica e democrática, liderada pela Venezuela, para pôr fim à longa crise política” e afirma que isto implica que as próximas eleições presidenciais, em 2024, devem ser “confiáveis, transparentes e inclusivas”.

Na quinta-feira, o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, descartou o envio de uma missão eleitoral da UE para o pleito. “Não vão voltar, porque são rudes, colonialistas”, advertiu Rodríguez.

O bloco europeu também manifestou “preocupação” com a inabilitação política da pré-candidata opositora María Corina Machado e sugeriu revisar o papel da Controladoria-Geral no caso.

No fim de 2021, a UE enviou à Venezuela uma missão de observação para as eleições regionais e municipais, a primeira desde 2006, e destacou avanços, mas também criticou “a inabilitação arbitrária de candidatos”.

‘Houve retrocesso’

Na segunda-feira passada, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, criticou “a falta de transparência e a conduta manipuladora da União Europeia na preparação da Cúpula”, que “colocam em sério risco o sucesso da reunião”.

“Não terão nenhuma possibilidade de êxito em Bruxelas aqueles que tentem impor uma visão enviesada e europeísta na relação birregional”, advertiu Rodríguez.

A Venezuela apoiou as críticas de Cuba sobre “a falta de transparência e a conduta manipuladora” do bloco europeu.

O chanceler cubano também afirmou que “a realidade é que, para além de discursos e declarações, não houve avanços nos vínculos birregionais. Inclusive, no último período, houve retrocesso”.

O Parlamento Europeu pediu à UE esta semana que adote sanções contra responsáveis de violações dos direitos humanos em Cuba, citando o presidente Miguel Díaz-Canel em uma resolução.

Apesar dessa tensão, o tema de Cuba pode ser uma das oportunidades de consenso na cúpula, indicou Sabatini.

“Cuba vivencia uma crise humanitária devido, em parte, ao embargo americano, às consequências da covid e, obviamente, aos fracassos da política econômica do governo”, disse o especialista.

“Se conseguir sensibilizar a opinião pública internacional e mobilizar um esforço coletivo para fazer frente à atual crise em Cuba, a cúpula entre UE e CELAC poderia fazer uma contribuição que é bastante necessária”, afirmou Sabatini.

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