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As desavenças que levaram Netanyahu a demitir seu ministro da Defesa, Yoav Gallant
Visto como ‘moderado demais’ para o governo, o agora ex-ministro frequentemente se opunha ao chefe nas questões militares


O governo de Benjamin Netanyahu demitiu, nesta terça-feira 5, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, Segundo o primeiro-ministro israelense, “houve muitas lacunas entre ele e Gallant sobre a gestão das guerras de Israel”.
Gallant era visto como uma voz dissonante no próprio partido governista, o Likud, defendendo uma postura mais ‘moderada’ em relação ao conflito no Oriente Médio.
Em agosto, o agora ex-ministro teria dito a parlamentares que o objetivo da guerra não deveria ser uma “vitória absoluta” sobre o Hamas. Em outra ocasião, afirmou que o grupo está “enraizado no coração das pessoas” e que “qualquer um que pense que é possível eliminá-lo está enganado”. Sob esta perspectiva, ele insistia para que Netanyahu apresentasse um plano estratégico para o pós-guerra, o que jamais ocorreu.
As diferenças eram claras inclusive em público. “Quando Gallant adota a narrativa anti-Israel, ele prejudica as chances de chegar a um acordo de reféns”, acusou o Netanyahu recentemente.
Após a demissão, o gabinete de Netanyahu declarou que “é preciso haver confiança entre o primeiro-ministro e o ministro da Defesa”, confiança que, segundo o governo, “foi quebrada nos últimos meses”. Israel Katz, atual chanceler, assume o posto, enquanto Gideon Saar assume o ministério das Relações Exteriores.
Fora do governo, Gallant foi lacônico: “A segurança do Estado de Israel foi e sempre será a missão da minha vida”, escreveu nas redes sociais.
Divergências repetidas
As desavenças entre Netanyahu e Gallant já haviam quase lhe custado o cargo. Em março de 2023, Gallant foi a público pedir a Netanyahu que moderasse a reforma judicial. “A divisão na sociedade chegou ao Exército e isso é um perigo imediato e tangível para a segurança do Estado”, declarou na TV, defendendo um Judiciário reformado, sim, mas “com diálogo”. Netanyahu tentou demiti-lo na época, mas protestos massivos em Tel-Aviv e outras cidades o mantiveram no cargo.
Diferenças sobre reféns e recrutamento militar
Netanyahu e Gallant discordavam também sobre as negociações para a libertação de reféns.
Em agosto, ambos tiveram uma ríspida discussão sobre a manutenção de tropas israelenses na área do chamado “corredor de Filadélfia” – que, para Gallant, agravava o embate com o Hamas e tornava inviável qualquer cessar-fogo. Ele criticava a centralização das decisões de Netanyahu, que desativou o Gabinete de Guerra, ampliando seu próprio poder sobre os rumos do confronto.
Mais recentemente, os dois se desentenderam sobre o recrutamento militar para a comunidade ultraortodoxa.
Mais recentemente, ambos de desentenderam em relação ao recrutamento militar para a comunidade ultraortodoxa. Gallant era a favor, mas Netanyahu, cujos aliados incluem partidos ultraortodoxos, era contra. Atualmente, essa comunidade representa cerca de 14% da população judaica de Israel.
Na última segunda-feira, 4, Gallant aprovou o alistamento de cerca de sete mil judeus ultraortodoxos. Foi a gota d’água para sua demissão, embora a medida tivesse aval da Suprema Corte desde junho.
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