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Argentina ‘segue’ Brasil e vai deixar de usar dólar nas importações com a China

Apesar da proximidade dos acordos, a medida argentina guarda algumas diferenças com o pacto brasileiro, causadas, em especial, pela desvalorização cambial que assola o país

Foto: Emiliano Lasalvia/AFP
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O governo da Argentina informou, na quarta-feira 26, que deixará de utilizar o dólar nas importações realizadas com a China. Em um contexto de desvalorização cambial no país sul-americano, a Argentina irá utilizar o yuan, moeda chinesa, nas relações comerciais com o país oriental.

A medida foi anunciada pelo ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, e pelo embaixador da China na Argentina, Zou Xiaoli, na sede do ministério da Economia, em Buenos Aires. 

Segundo Massa, a ideia é preservar as reservas internacionais do país. Dessa forma, a Argentina deverá realizar “um volume de importações em yuans por mais de 1 bilhão de dólares, a partir do mês que vem”, de acordo com o ministro. Em seguida, o governo argentino estima que, mensalmente, cerca de 790 milhões de dólares de importações que, hoje, são pagas na moeda norte-americana, passem a ser pagas na moeda chinesa.

Em novembro do ano passado, a Argentina elevou o seu swap cambial com a China em 5 bilhões de dólares. O swap cambial é uma ferramenta comumente utilizada pela autoridade monetária de um país, a exemplo do Banco Central, para interferir na desvalorização da moeda e nos efeitos da inflação. O instrumento é especialmente necessário na economia argentina, dada a crescente e histórica flutuação da moeda e os elevados patamares de inflação.

Paralelos entre Argentina e Brasil na relação com a moeda chinesa

A proposta argentina de substituir o uso de dólares nas negociações com a China guarda semelhanças com o recente acordo entre o Brasil e o país asiático sobre a operação. Há, nos dois países sul-americanos, movimentos de aproximação com o aquecido mercado chinês e, da parte do país oriental, uma tentativa de diminuir a influência – há décadas, majoritária – do dólar nas transações internacionais. 

Entretanto, diferenças estruturais nas economias de Brasil e Argentina podem ser responsáveis pelas particularidades de cada acordo. No caso brasileiro, a opção pelo yuan, ao invés do dólar, não será obrigatória para os setores de importação e exportação. Além disso, a possível diminuição de procedimentos burocráticos poderá estimular as trocas comerciais.

Já no caso da Argentina, a determinação do uso do yuan nas importações é uma tentativa de solucionar o crônico problema que o país tem de reserva em dólar. A desvalorização do peso argentino, ligada à inflação que, recentemente, atingiu mais de 100% no país, faz com que os argentinos costumem promover o que se convenciona chamar de “corrida cambial” em busca do dólar. O que faz, consequentemente, com que a moeda norte-americana seja encarada como uma forma de segurança.

Característica argentina

Na última segunda-feira 24, o dólar operou valendo 228 pesos no câmbio oficial. Nesse mesmo contexto, é comum, na Argentina, o uso do dólar no mercado paralelo, conhecido como “dólar blue”. Também na segunda-feira, a cotação do dólar chegou perto de 500 pesos no mercado paralelo. 

Atualmente, está em vigor um acordo entre a Argentina e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que visa reestruturar a dívida de 44 bilhões de dólares do país em relação ao FMI. Pelos termos do acordo, o Banco Central argentino deve atuar de maneira limitada quando vai intervir no mercado de câmbio. 

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