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Após veto dos EUA, chanceler brasileiro repudia ‘paralisia’ do Conselho de Segurança da ONU

A inação do grupo prejudica a segurança e a via de milhões de pessoas, disse Mauro Vieira no Egito

A participação do chanceler brasileiro, Mauro Vieira, na cúpula do Egito, em 21 de outubro de 2023. Foto: Khaled Desouki/AFP
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O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, cobrou respostas multilaterais sobre o conflito entre Israel e Hamas. Ele participou neste sábado 21 da cúpula convocada pelo Egito para discutir a crise humanitária na Faixa de Gaza.

Em outubro, o Brasil ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Na próxima terça-feira 24, o País comandará o Debate Aberto Trimestral do grupo, a fim de discutir especificamente a guerra no Oriente Médio.

“Sugiro que continuemos essa conversa no mais alto nível possível, na tentativa de continuar buscando consenso para ação imediata”, disse o chanceler neste sábado. “A paralisia do Conselho de Segurança prejudica a segurança e a vida de milhões de pessoas. Isso não é do interesse da comunidade internacional.”

No início desta semana, os Estados Unidos vetaram no Conselho de Segurança um projeto de resolução liderado pelo Brasil que defendia uma pausa nos bombardeios israelenses para permitir o acesso humanitário à Faixa de Gaza.

Também condenava expressamente os “odiosos ataques terroristas” do Hamas e ressaltava que “os civis em Israel e no território palestino ocupado, incluindo Jerusalém Oriental, devem ser protegidos, de acordo com a legislação internacional”.

A resolução teve 12 votos a favor, o veto dos americanos e duas abstenções, incluindo a Rússia. Cinco países têm direito de veto: EUA, China, Rússia, França e Reino Unido.

“Apesar dos esforços, o Conselho de Segurança foi lamentavelmente incapaz de adotar uma resolução”, criticou Vieira neste sábado. “No entanto, os muitos votos favoráveis que o projeto de resolução recebeu – 12 de 15 – provam o amplo apoio político a uma ação rápida por parte do conselho. Acreditamos que esta visão é compartilhada pela comunidade internacional em geral.”

Outros pontos do discurso

“O governo brasileiro rejeita e condena os ataques terroristas do Hamas em Israel, assim como a tomada de reféns civis”, afirmou Mauro Vieira no início de seu pronunciamento na cúpula do Egito. Ao mesmo tempo, disse, “assistimos à deterioração da situação humanitária na região, especialmente a escassez de medicamentos, alimentos, água, eletricidade e combustível”.

“Israel, como a força de ocupação, tem responsabilidades específicas sob o direito humanitário internacional.”

Segundo o ministro, “a expansão de assentamentos israelenses em territórios ocupados, a violência contra civis, a destruição de infraestrutura básica e as violações do status quo histórico de locais sagrados em Jerusalém combinam para gerar um ambiente que põe em risco a solução de dois Estados e provoca ódio, violência e extremismo”.

“Enquanto sempre haverá aqueles dispostos a jogar lenha na fogueira, o Brasil clama por diálogo. A destruição de infraestrutura civil é inaceitável”, prosseguiu. “Testemunhamos desalentados o bombardeio do Hospital Al Ahly Arab. Todas as partes devem proteger os civis e respeitar o direito humanitário internacional.”

Mauro Vieira instou a comunidade internacional a “empreender o máximo esforço diplomático para garantir o estabelecimento rápido de corredores humanitários e um cessar-fogo imediato”.

“Como diz o presidente Lula, a atual crise requer urgente ação humanitária multilateral para encerrrar o sofrimento de civis.”

Antes da agenda, o chanceler disse que a diplomacia brasileira levaria à cúpula a seguinte mensagem:

“Não é possível mais que continue com uma carência absoluta de todos os víveres, de todos os bens de primeira necessidade, até de água. Precisamos discutir essa questão antes que a situação se transforme em um problema humanitário de maior volume ainda. A expectativa é que se crie uma consciência de que é chegado o momento de pôr um ponto final a esse derramamento de sangue e a essa guerra que, no fundo, afeta todo mundo”.

Participaram da reunião, além de Brasil e Egito, representantes de Jordânia, Catar e Turquia, além de outros países do Oriente Médio e da Europa.

“Eu venho ao Cairo por instrução do presidente Lula para representá-lo nesta importante conferência que está sendo promovida pelo governo egípcio para se discutir a questão da guerra no Oriente Médio e, sobretudo, para trazer a mesma mensagem que nós apresentamos no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova York, que é chegar no momento de se tomar medidas de ajuda humanitária para aliviar o sofrimento do povo de Gaza”, acrescentou Vieira.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, reforçou neste sábado que o “repreensível ataque” executado pel Hamas contra Israel em 7 de outubro “nunca poderá justificar a punição coletiva do povo palestino”. O português também participou da cúpula no Egito.

Neste sábado, vinte caminhões com ajuda humanitária atravessaram a Faixa de Gaza, na primeira vez que a fronteira de Rafah com o Egito foi aberta desde o início da nova guerra entre Israel e o Hamas, há duas semanas.

Logo após a passagem, a fronteira foi fechada novamente. Esse é o único ponto de entrada em Gaza não controlado pelo governo israelense.

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