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Após ONU aprovar pausa humanitária, Israel faz novos ataques e prossegue com operação em hospital de Gaza

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sinaliza que não pretende interromper as operações militares no enclave, mesmo diante da resolução aprovada na ONU

Após ONU aprovar pausa humanitária, Israel faz novos ataques e prossegue com operação em hospital de Gaza
Após ONU aprovar pausa humanitária, Israel faz novos ataques e prossegue com operação em hospital de Gaza
Foto: Jack Guez / AFP
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O Exército de Israel prosseguia nesta quinta-feira (16) com a operação no principal hospital de Gaza, onde afirma que o Hamas esconde um posto de comando militar estratégico, apesar das críticas e da preocupação internacional com os civis que estão refugiados no complexo médico.

“Esta noite realizamos uma operação seletiva no hospital Al Shifa. Continuamos avançando”, declarou o general de divisão Yaron Finkelman, que comanda as operações israelenses em Gaza.

O Exército israelense confirmou à AFP durante a manhã que seus soldados permanecem mobilizados no complexo médico, o mais importante da Faixa de Gaza, onde a ONU calcula que estão quase 2.300 pessoas, entre pacientes, profissionais da saúde e deslocados.

O Ministério da Saúde do território palestino controlado pelo Hamas afirmou que “buldozeres israelenses destruíram diversas áreas da entrada sul” do hospital.

Israel alega que o Hamas utiliza o hospital como base militar, uma acusação corroborada pelo governo dos Estados Unidos, mas que o movimento islamista palestino nega.

Em uma primeira incursão na quarta-feira (15), o Exército israelense anunciou que encontrou “munições, armas e equipamentos militares” pertencentes ao Hamas, que é considerado um grupo “terrorista” por Estados Unidos, União Europeia e Israel.

As Forças Armadas divulgaram imagens de armas, granadas e outros equipamentos de guerra, e afirmaram que eram procedentes de sua operação em Al Shifa. A AFP não conseguiu confirmar as acusações com fontes independentes.

O Ministério da Saúde do Hamas rebateu e afirmou que o Exército israelense não encontrou “armas nem equipamentos militares” porque o grupo islamista “não autoriza” a posse de dispositivos bélicos nesses estabelecimentos.

Novos ataques

Também nesta madrugada, Israel promoveu novos ataques no enclave. No principal deles, o Exército afirmou ter atingido a casa de Ismail Haniyeh, líder do Hamas, em Gaza. Haniyeh, no entanto, não vive no local e estaria no Catar há alguns anos.

Outro endereço da sua família também foi bombardeado pelos militares sob a alegação de servirem como ‘infraestrutura terrorista’ e ‘ponto de encontro de altos membros do Hamas’.

“Extremamente cuidadoso”

Pela primeira vez desde o início da guerra, o Conselho de Segurança da ONU conseguiu aprovar, na quarta-feira, uma resolução para pedir “pausas humanitárias” na Faixa de Gaza.

O texto, aprovado com 12 votos a favor e três abstenções de Estados Unidos, Rússia e Reino Unido, pede “pausas e corredores humanitários amplos e urgentes por um número suficiente de dias” para permitir a chegada de ajuda humanitária aos civis da Faixa de Gaza.

Segundo um jornalista colaborador da AFP presente em Al Shifa, dezenas de soldados israelenses entraram na quarta-feira no hospital e pediram a “todos os homens com mais de 16 anos” que seguissem “para o pátio interno para a rendição”.

Soldados israelenses realizam operações dentro do hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza. Créditos: Israeli Army / AFP

Os soldados revistaram mulheres e crianças que choravam e seguiram de quarto em quarto, atirando para o alto, em busca de combatentes do Hamas, segundo repórter.

A primeira incursão no hospital provocou críticas internacionais e pedidos de proteção aos civis palestinos, tanto da ONU como de países como França, Catar e Turquia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu a Israel que seja “extremamente cuidadoso” na operação dentro do hospital.

Mas o presidente americano, um aliado crucial de Israel na guerra contra o Hamas, também considerou que não é realista pensar que o país interromperá a operação.

Pressões das famílias dos reféns

No dia 7 de outubro, o Hamas executou um ataque surpresa no sul de Israel que matou 1.200 pessoas, segundo as autoridades israelenses. O grupo islamista também fez 240 reféns.

Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o movimento islamista e iniciou uma campanha de bombardeios diários contra a Faixa de Gaza, que está sob cerco total.

O Exército israelense anunciou nesta quinta-feira que mais dois soldados morreram nos combates na Faixa de Gaza, o que eleva a 50 o número de militares falecidos no território palestino desde o início da guerra contra o Hamas.

A ofensiva, que desde 27 de outubro é acompanhada por uma operação terrestre, já matou mais de 11.500 palestinos, incluindo mais de 4.700 crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas calcula que 1,65 milhão dos 2,3 milhões de habitantes do território palestino foram obrigados a fugir de suas casas devido ao conflito.

Desde 5 de novembro, 200.000 palestinianos fugiram do devastado norte da Faixa de Gaza para o sul do território.

Israel informou que 240 pessoas foram sequestradas durante o ataque do Hamas e o destino dos reféns é um tema delicado para o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Biden afirmou que está um “pouco esperançoso” de um resultado positivo nas negociações para a libertação dos reféns, uma questão na qual o Catar atua como mediador.

“Não quero me precipitar porque não sei o que aconteceu nas últimas quatro horas, mas conseguimos uma grande cooperação do Catar (…) Vou parar. Mas estou um pouco esperançoso”, disse na quarta-feira à noite.

A pressão aumenta sobre o governo Netanyahu: as famílias dos reféns exigem um acordo imediato para a libertação e, na terça-feira, iniciaram em Tel Aviv uma caminhada de cinco dias até o gabinete do primeiro-ministro em Jerusalém.

Na frente política, o líder da oposição israelense, Yair Lapid, pediu a renúncia imediata de Netanyahu e sua substituição por outro membro do partido governante, o Likud.

“Não podemos nos permitir realizar uma longa campanha (militar) com um primeiro-ministro que perdeu a confiança do povo”, afirmou em uma entrevista ao canal israelense N12.

(Com informações de AFP)

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