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Agricultores europeus mantêm bloqueios na França e levam protestos à Espanha
Diante da insatisfação do setor, os governos prometem apontar normas de produção na União Europeia e as importações de países de fora do bloco


Os sindicatos de trabalhadores rurais espanhóis anunciaram que vão aderir ao protesto celebrado na Europa, principalmente na França, onde os agricultores mantiveram o bloqueio de várias rodovias de acesso a Paris nesta terça-feira (30), antes de novos anúncios do governo.
Cada país enfrenta suas próprias dificuldades, mas todos concordam em apontar as normas de produção na União Europeia e as importações de países de fora do bloco como causas potenciais para a queda das receitas e da perda de competitividade.
A importação de “produtos agrícolas de países terceiros a preços baixos que pressionam os da UE para baixo” é um caso de “concorrência desleal”, alertaram os sindicatos espanhóis ASAJA, COAG e UPA, em sua convocação a protestos “nas próximas semanas”.
Em visita à Suécia, o presidente francês, Emmanuel Macron, criticou aqueles que “culpam” a UE por todos os males, o que ele considerou muito “fácil”, alertando que muitos agricultores franceses não teriam um salário sem a Política Agrícola Comum (PAC) europeia.
No entanto, estendendo a mão, Macron reiterou sua oposição ao acordo comercial negociado desde 1999 entre a UE e o Mercosul, considerando que as normas de produção agrícola dos países sul-americanos do bloco “não são homogêneas” com as europeias.
O presidente francês, que planeja se reunir na quinta-feira em Bruxelas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também defendeu uma melhor regulação das importações de frango e cereais da Ucrânia, país em guerra desde 2022 contra a Rússia.
A poucos meses das eleições para o Parlamento Europeu em junho, a revolta no setor agrário, que também foi vivenciada na Alemanha, Polônia, Romênia, Bélgica e Itália, aumenta a pressão sobre as políticas do atual mandato, como o Pacto Verde, que inclui medidas de transição ecológica na agricultura.
“Exceção agrícola francesa”
Na França, epicentro dos protestos, os agricultores, mobilizados desde 18 de janeiro, mantiveram os protestos, considerando insuficientes as medidas anunciadas na sexta-feira pelo primeiro-ministro, Gabriel Attal, como a supressão de uma taxa sobre o diesel de uso agrícola.
No volante de seus tratores, os agricultores mantiveram o bloqueio do tráfego em vários pontos da França e interromperam, pelo segundo dia consecutivo, várias estradas de acesso a Paris, onde montaram acampamentos improvisados para passar a noite.
“O bloqueio serve para pressionar o governo, que deve decidir se apoia a agricultura francesa ou se deixa a porta aberta para uma produção estrangeira que não cumpre as normas”, afirmou Stéphanie Guicheux, uma agricultora de 34 anos, na autoestrada A13, perto de Paris.
Do sul do país, também avança um comboio de 200 tratores que partiu de Agen na véspera em direção ao mercado atacadista de Rungis, perto da capital, um dos maiores do mundo, com o objetivo de bloqueá-lo a pedido do sindicato Coordenação Rural.
As autoridades mobilizaram um grande dispositivo de segurança para impedir essa ação, que não conta com a unanimidade do movimento agrícola. “Nosso objetivo não é deixar os franceses passarem fome”, advertiu Arnaud Rousseau, líder do sindicato majoritário FNSEA.
Diante da Assembleia (Câmara baixa), Attal homenageou os agricultores e pescadores, que “trabalham dia e noite para alimentar” os cidadãos, solicitou uma “exceção agrícola francesa” e anunciou novas medidas, como o pagamento “até 15 de março” das ajudas agrícolas previstas na PAC.
Sem dar mais detalhes, Attal também falou sobre um reforço nas ajudas fiscais aos pecuaristas e um “grande plano de controle sobre a rastreabilidade dos produtos”. “Tudo não poderá ser resolvido em poucas semanas”, alertou.
O governo francês enfrenta a pressão do principal partido de oposição, o Reagrupamento Nacional (RN), da ultradireitista Marine Le Pen, que lidera as pesquisas na França para as eleições europeias.
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