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A truculência da polícia francesa nos subúrbios marginalizados

Além de promover o diálogo entre a polícia, árabes e negros, Hollande terá de incluir todos na sua promoção de crescimento econômico

Além de promover o diálogo entre a polícia, árabes e negros, Hollande terá de incluir todos na sua promoção de crescimento econômico Foto: AFP
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Dezessete policiais feridos, uma escola primária incendiada, um centro esportivo destruído. Eis o balanço, na noite de segunda-feira 12 do confronto entre 150 policiais e cerca de 100 jovens em Amiens, cidade situada 120 quilômetros ao norte de Paris.

Quantos foram os jovens de origem árabe e africana feridos? E por que recorrem à violência? Raros são aqueles a explicar os motivos que os levam a cometer tais atos.

No embate, os jovens usaram armas de fogo, incendiaram latas de lixo, lançaram objetos e fogos de artifício contra os policiais. Estes, por sua vez, revidaram com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Um helicóptero sobrevoou a zona norte da cidade, onde ocorreu o conflito.

Naquele mesmo dia, François Hollande, o primeiro presidente socialista francês em 17 anos, comemorava 100 dias na liderança do país. Hollande interrompeu suas férias para visitar uma das duas policiais mortas no trabalho em junho. E para lidar com o último entrevero entre a polícia e jovens em Amiens, uma das 15 zonas ditas “prioritárias de segurança”. A partir de setembro, as forças de segurança estarão mais presentes nessas zonas. “Segurança não é apenas uma prioridade para nós, mas uma obrigação”, garantiu Hollande.

Enquanto isso, na terça-feira 14 o ministro do Interior, Manuel Valls, marcava presença em Amiens, onde em 9 de agosto um jovem foi morto em um acidente de moto. Declarou Valls: “Atirar em policiais? Incendiar uma escola? Isso tudo é inaceitável”.

Valls foi vaiado.

O motivo é simples: a polícia e as populações dos subúrbios, em sua maior parte de origem árabe e africana, não se entendem. Os netos e filhos de imigrantes que aqui chegaram nos anos 1960 e 1970 para trabalhar em indústrias nas periferias de grandes cidades como Paris se sentem marginalizados. Esses cidadãos são aqueles com maiores dificuldades para conseguir empregos em um país onde a Marie Dupont sempre leva a melhor. E diante de um segundo trimestre consecutivo de crescimento nulo, a perspectiva para esses netos e filhos de imigrantes é no mínimo preocupante.

Nesse contexto, vale enfatizar, a falta de tato da polícia com esses cidadãos franceses menos privilegiados só tende a piorar o quadro. Foi essa tensão, aliás, que provocou o último confronto.

No domingo, a brigada anticrime (BAC) foi ao funeral do jovem, Nadir Hadii, morto no acidente de moto, o mesmo cujos pais receberam a visita do ministro Valls, na terça-feira. O objetivo dos policiais era questionar um homem por dirigir de forma perigosa.

Declarou Sabrina Hadji, a irmã do jovem falecido, ao website Mediapart: “Não se tratou de um controle banal, foi pura provocação”. Os policiais prenderam o homem em questão, e tiveram altercações verbais com o pai e tio da irmã de Sabrina. Um dos policiais disse: “Lembre-se que o rapaz está enterrado”. Em outros termos, visto que o jovem de 20 anos já não faz parte desse mundo, eles, policiais, tinham o direito de fazer o que bem entendessem no funeral.

“Nós não somos animais”, disse Sabrina.

Hollande precisa mostrar serviço no quesito segurança. E, de fato, é preciso lidar com gangues a ameaçar cidadãos. Mas certamente ele não deveria seguir os passos de seu antecessor, o direitista Nicolas Sarkozy, o qual tratou as minorias étnicas como um político de extrema-direita – justamente para angariar os votos de Marine Le Pen, da legenda extremista Frente Nacional.

Em 2005, quando era ministro do Interior e já sonhava com sua vitória na presidencial de 2007, Sarko disse nas cercanias de Paris, onde netos e filhos de imigrantes se batiam contra a polícia: “Vamos acabar com essa escória”.

No entanto, Hollande e Valls, seu ministro do Interior, não parecem ter uma estratégia diferente daquela de Sarko. Valls  fechou campos de romenos e búlgaros, em sua maior parte Roma (ou ciganos, como alguns ainda preferem ser chamados). Um semanário conservador não perdeu a oportunidade de chamar o ministro socialista de conservador.

De saída, Hollande, que na sua campanha presidencial prometeu promover o crescimento e não somente medidas de austeridade para combater a crise econômica, poderia tentar inserir os jovens de minorias na sociedade. Eles fazem, afinal, parte do crescimento econômico do país.

O presidente, é claro, tem de defender a polícia. Entretanto, tem de dar apoio também o cidadão marginalizado, ainda mais sendo ele um socialista.

Policiais têm medo, e com razão, de adentrar bairros de minorias em Amiens. E por isso o fazem, sempre em grupos, e de forma agressiva. Não seria melhor tê-los mais presentes nessas zonas sensíveis, e como mediadores – não como os costumeiros justiceiros truculentos em busca do culpado?

Hollande terá, de uma forma ou outra, de mostrar sinais concretos de que sua política econômica para promover o crescimento favorece também os menos favorecidos. E terá de promover o diálogo entre o governo, a polícia e os marginalizados.

Dezessete policiais feridos, uma escola primária incendiada, um centro esportivo destruído. Eis o balanço, na noite de segunda-feira 12 do confronto entre 150 policiais e cerca de 100 jovens em Amiens, cidade situada 120 quilômetros ao norte de Paris.

Quantos foram os jovens de origem árabe e africana feridos? E por que recorrem à violência? Raros são aqueles a explicar os motivos que os levam a cometer tais atos.

No embate, os jovens usaram armas de fogo, incendiaram latas de lixo, lançaram objetos e fogos de artifício contra os policiais. Estes, por sua vez, revidaram com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Um helicóptero sobrevoou a zona norte da cidade, onde ocorreu o conflito.

Naquele mesmo dia, François Hollande, o primeiro presidente socialista francês em 17 anos, comemorava 100 dias na liderança do país. Hollande interrompeu suas férias para visitar uma das duas policiais mortas no trabalho em junho. E para lidar com o último entrevero entre a polícia e jovens em Amiens, uma das 15 zonas ditas “prioritárias de segurança”. A partir de setembro, as forças de segurança estarão mais presentes nessas zonas. “Segurança não é apenas uma prioridade para nós, mas uma obrigação”, garantiu Hollande.

Enquanto isso, na terça-feira 14 o ministro do Interior, Manuel Valls, marcava presença em Amiens, onde em 9 de agosto um jovem foi morto em um acidente de moto. Declarou Valls: “Atirar em policiais? Incendiar uma escola? Isso tudo é inaceitável”.

Valls foi vaiado.

O motivo é simples: a polícia e as populações dos subúrbios, em sua maior parte de origem árabe e africana, não se entendem. Os netos e filhos de imigrantes que aqui chegaram nos anos 1960 e 1970 para trabalhar em indústrias nas periferias de grandes cidades como Paris se sentem marginalizados. Esses cidadãos são aqueles com maiores dificuldades para conseguir empregos em um país onde a Marie Dupont sempre leva a melhor. E diante de um segundo trimestre consecutivo de crescimento nulo, a perspectiva para esses netos e filhos de imigrantes é no mínimo preocupante.

Nesse contexto, vale enfatizar, a falta de tato da polícia com esses cidadãos franceses menos privilegiados só tende a piorar o quadro. Foi essa tensão, aliás, que provocou o último confronto.

No domingo, a brigada anticrime (BAC) foi ao funeral do jovem, Nadir Hadii, morto no acidente de moto, o mesmo cujos pais receberam a visita do ministro Valls, na terça-feira. O objetivo dos policiais era questionar um homem por dirigir de forma perigosa.

Declarou Sabrina Hadji, a irmã do jovem falecido, ao website Mediapart: “Não se tratou de um controle banal, foi pura provocação”. Os policiais prenderam o homem em questão, e tiveram altercações verbais com o pai e tio da irmã de Sabrina. Um dos policiais disse: “Lembre-se que o rapaz está enterrado”. Em outros termos, visto que o jovem de 20 anos já não faz parte desse mundo, eles, policiais, tinham o direito de fazer o que bem entendessem no funeral.

“Nós não somos animais”, disse Sabrina.

Hollande precisa mostrar serviço no quesito segurança. E, de fato, é preciso lidar com gangues a ameaçar cidadãos. Mas certamente ele não deveria seguir os passos de seu antecessor, o direitista Nicolas Sarkozy, o qual tratou as minorias étnicas como um político de extrema-direita – justamente para angariar os votos de Marine Le Pen, da legenda extremista Frente Nacional.

Em 2005, quando era ministro do Interior e já sonhava com sua vitória na presidencial de 2007, Sarko disse nas cercanias de Paris, onde netos e filhos de imigrantes se batiam contra a polícia: “Vamos acabar com essa escória”.

No entanto, Hollande e Valls, seu ministro do Interior, não parecem ter uma estratégia diferente daquela de Sarko. Valls  fechou campos de romenos e búlgaros, em sua maior parte Roma (ou ciganos, como alguns ainda preferem ser chamados). Um semanário conservador não perdeu a oportunidade de chamar o ministro socialista de conservador.

De saída, Hollande, que na sua campanha presidencial prometeu promover o crescimento e não somente medidas de austeridade para combater a crise econômica, poderia tentar inserir os jovens de minorias na sociedade. Eles fazem, afinal, parte do crescimento econômico do país.

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Policiais têm medo, e com razão, de adentrar bairros de minorias em Amiens. E por isso o fazem, sempre em grupos, e de forma agressiva. Não seria melhor tê-los mais presentes nessas zonas sensíveis, e como mediadores – não como os costumeiros justiceiros truculentos em busca do culpado?

Hollande terá, de uma forma ou outra, de mostrar sinais concretos de que sua política econômica para promover o crescimento favorece também os menos favorecidos. E terá de promover o diálogo entre o governo, a polícia e os marginalizados.

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