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A situação na Rússia um dia após o fim da rebelião do Wagner, segundo historiador em Moscou

A CartaCapital, Rodrigo Ianhez analisa o movimento deflagrado por Yevgeny Prigozhin, que não será processado

Registro do Kremlin em 24 de junho de 2023, dia de uma rebelião da mílica Wagner. Foot; Natalia Kolesnikova/AFP
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Moscou vive neste domingo 25 um dia de aparente normalidade, horas após o fim de uma rebelião deflagrada pelo líder da milícia Wagner, Yevgeny Prigozhin, contra o comando militar do país. O episódio, porém, evidencia que a disciplina em meio à guerra na Ucrânia não é a ideal e que o prestígio do governo sofreu abalos. A avaliação é do historiador brasileiro Rodrigo Ianhez, especialista no período soviético que mora na capital da Rússia há mais de 11 anos.

Ianhez conversou com CartaCapital direto da região central de Moscou, pouco depois de se deslocar de metrô – o sistema de transporte funciona sem grandes obstáculos neste domingo.

“Sei que algumas pessoas ficam até frustradas, esperam que haja uma calamidade pública, mas o fato é que estou na rua e não se nota nem um policiamento muito ostensivo hoje. Realmente não há sinais de que tenha ocorrido algo anormal aqui em Moscou”, afirmou.

No sábado 24, o cenário era distinto. Havia um contingente mais expressivo de agentes de segurança, especialmente ao redor de locais-chave para o governo de Vladimir Putin, como a sede do Ministério da Defesa. As pessoas também saíram às ruas para aproveitar o breve verão, embora com alguns sinais a confirmarem o clima de relativa apreensão. Um táxi que transportava Ianhez, por exemplo, foi parado para conferência de documentos.

Embora Moscou não tenha vivido uma situação de calamidade mesmo nos momentos mais tensos do levante do Wagner, diz Ianhez, a marcha dos milicianos sobre a capital expõe problemas na disciplina das forças que lutam pela Rússia no front contra a Ucrânia.

“O governo russo pela manhã anuncia que Prigozhin seria processado por traição e ameaçar uma sublevação, mas no final do dia isso já é descartado. Então, é evidente que há uma demonstração, no mínimo, de que o prestígio do governo não está nas alturas, ainda mais durante um conflito militar”, declarou o historiador.

Segundo ele, os atos de Prigozhin em desafio às autoridades russas não são recentes, baseados em declarações “que beiram a alta traição”. Como o Estado não reprimia essas atitudes, porém, “ele desmoralizava principalmente as figuras associadas ao Ministério da Defesa”.

No sábado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que o motim do Wagner foi uma demonstração da fraqueza da Rússia.“A fragilidade é evidente. Uma fragilidade total”, argumentou.

Para Rodrigo Ianhez, o episódio demonstra uma fraqueza “no sentido de que nas atuais condições é inadmissível que ocorra com a facilidade que ocorreu uma sublevação, apesar de ela ter sido rapidamente desmobilizada”.

Yevgeny Prigozhin irá para Belarus, um movimento que resulta do acordo intermediado pelo presidente Alexander Lukashenko para encerrar a rebelião.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, informou no sábado que o processo criminal aberto contra o líder do Wagner será arquivado e os integrantes do grupo não enfrentarão ações legais, em reconhecimento por seus “serviços anteriores”.

Apesar de Putin ter prometido uma punição contra os rebelados, Peskov afirmou que o acordo mediado por Belarus tinha um “objetivo maior”, o de evitar confronto e derramamento de sangue. O porta-voz se referiu ao dia, por fim, como “trágico”.

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