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A polêmica na Argentina por aumento de salários de senadores em plena crise

O país tem 288% de inflação em 12 meses e mais de metade da população na pobreza

O Senado da Argentina em 18 de abril de 2024. Foto: Comunicación/Senado
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Os senadores da Argentina, sem debate e em votação à mão alçada, aumentaram seus salários em 170%, uma decisão que causou controvérsia nesta sexta-feira 19 no país, com 288% de inflação em 12 meses e mais de metade da população na pobreza.

Após a votação, que ocorreu ao fim de uma sessão ordinária na quinta-feira e durou menos de dois minutos, os 72 integrantes do Senado receberão cerca de 4 milhões de pesos argentinos líquidos (24.000 reais) por mês, enquanto o salário-mínimo, hoje em um piso histórico, beira os 200.000 pesos (1.200 reais).

Os blocos de oposição votaram a favor, enquanto os senadores governistas e seus aliados não levantaram as mãos, mas deram o quórum e não pediram uma votação nominal, uma prática comum quando não há consenso.

“É uma loucura porque não corresponde aos salários que nós temos”, opinou Gabriela Quiroga, uma vendedora de roupa de 31 anos, que contou à AFP que “os negócios não estão vendendo nada” e “cada vez se vê mais gente dormindo nas ruas”.

Desde que a notícia veio à tona, o presidente Javier Milei compartilhou publicações que qualificam os legisladores como “cínicos” e “hipócritas”, enquanto o ministro de Economia, Luis Caputo, escreveu no X: “Vergonha alheia do Senado ontem”.

Luis Juez, presidente do bloco do PRO, aliado do governo, tampouco levantou sua mão e manifestou em suas redes que o aumento “é inoportuno e uma vulgaridade no momento que está vivendo a sociedade”.

Um dos senadores mais criticados pelo governo foi Martín Lousteau, presidente da opositora União Cívica Radical, que, para votar a favor, levantou a mão mais ou menos: o registro do momento foi compartilhado mais de 20 vezes por Milei no X.

Lousteau, por sua vez, disse em uma entrevista a uma rádio que a medida tinha sido consensual por todos os senadores e defendeu o aumento: “Um senador estava ganhando menos do que o tuiteiro do presidente; estava um terço do que [recebe o porta-voz presidencial] Manuel Adorni.”

Nesta semana, veio à tona a informação de que o porta-voz presidencial terá status de secretário de Estado, com um salário equivalente a cerca de 3.000 dólares (pouco mais de 15.000 reais), e que Karina Milei, irmã de Javier e secretária-geral da presidência, terá status ministerial, ganhando cerca de 4.000 dólares (20,9 mil reais).

O bloco governista no Senado, por sua vez, informou em um comunicado que apresentará um projeto para reverter os aumentos.

A medida se deu ao mesmo tempo que começa na Câmara dos Deputados a discussão sobre a nova “lei de bases”, também conhecida como “lei ônibus”, um grande pacote de reformas do Estado cuja aprovação pode ser chave para o plano de governo de Milei.

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