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À medida que o Taleban aperta seu controle, aumenta o medo de retaliação

Líderes do Taleban prometeram anistia a oficiais e soldados afegãos, mas há cada vez mais relatos de detenções, desaparecimentos e execuções

Tropas talebans rondam Cabul Aamir QURESHI / AFP
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Quando as tropas do Taleban tomaram o controle da capital afegã há duas semanas, dois alvos de controle foram determinados: a sede da Direção de Segurança Nacional e o Ministério das Comunicações.

O objetivo deles, relatado por dois oficiais afegãos, era proteger os arquivos dos oficiais de inteligência afegãos e seus informantes e obter os meios de rastrear os números de telefone dos cidadãos.

A velocidade da tomada de poder em Cabul foi subestimada pelo Estados Unidos e pelos afegãos que vinham trabalhando para conter a ameaça do Taleban, que desde então foram forçados a se esconder.

Poucos funcionários encontraram tempo para destruir documentos, e milhares de arquivos ultrassecretos e listas de folha de pagamento caíram nas mãos do grupo extremista, disseram os dois funcionários.

Enquanto as tropas americanas completam sua retirada antes do prazo de terça-feira 31, o País se esconde com medo de represálias

Até agora, a liderança política do Taleban tem apresentado de forma moderada, prometendo anistia às forças de segurança do governo que deporem as armas, até escrevendo cartas de garantia de que não serão perseguidos, embora se reservando o direito de processar crimes graves. Porta-vozes do Taleban também falaram em formar um governo inclusivo.

Um porta-voz do Taleban, Suhail Shaheen, disse em um post em inglês no Twitter que não houve acerto de contas, nem uma lista de alvos com a qual o Taleban estava conduzindo buscas de porta em porta, como rumores.

https://twitter.com/suhailshaheen1/status/1430285744367620096

“A anistia geral foi concedida”, escreveu ele, acrescentando que “estamos nos concentrando no futuro”.

No entanto, há cada vez mais relatos de detenções, desaparecimentos e até execuções de funcionários pelo Taleban.  Funcionários do governo descrevem como uma perseguição secreta e, por vezes, mortal dos inimigos do Taleban.

“É muito subterrâneo”, disse um ex-legislador, que estava escondido em outro lugar quando o Taleban visitou sua casa no meio da noite, conforme o jornal norte-americano New York Times. 

“Isso é intimidação”, disse ele. “Sinto-me ameaçado e a minha família está em choque.”

O Taleban invadiu cidades e distritos, muitas vezes sem disparar um tiro, oferecendo garantias diplomáticas a seus oponentes e ao público. Mas os primeiros comandantes muitas vezes foram substituídos por executores mais intransigentes que realizam buscas e sequestros, disseram autoridades do antigo governo.

A escala do Taleban não é clara, dado que está sendo conduzida secretamente. Tampouco está claro qual nível de liderança do Taleban autorizou detenções ou execuções.

“As pessoas não confiam no Taleban devido ao que faziam anteriormente”, disse um afegão que trabalhou como tradutor para a missão da OTAN e estava entre os evacuados, ao jornal americano. 

Organizações internacionais de direitos humanos, também têm atuado para compreender exatamente o que está acontecendo no Afeganistão. Vários funcionários do governo que permanecem em seus cargos disseram que estão recebendo ligações cada vez mais aflitas de parentes e conhecidos.

“Eles parecem estar fazendo buscas muito ameaçadoras”, disse Patricia Gossman, diretora associada para a Ásia da Human Rights Watch. “É  o tipo de comportamento do estado policial. A mensagem é muito clara”.

A Human Rights Watch apontou que 44 pessoas foram retiradas de suas casas e executadas em julho na cidade de Spin Boldak, a principal passagem de fronteira do sul do Afeganistão para o Paquistão.

Os mortos eram membros das forças lideradas por Abdul Raziq Achakzai, regimento treinado pela CIA em oposição  ao Taleban que foi amplamente acusado de abusos dos direitos humanos.

O Taleban não confirmou as detenções e, aparentemente com a intenção de evitar a censura internacional, atribuiu alguma violência a outras pessoas que alegam ser do grupo.

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