Justiça
Volkswagen abandona negociação sobre indenização de vítimas de trabalho escravo
Fatos ocorreram entre os anos de 1970 e 1980; Ministério Público do Trabalho quer reparação para trabalhadores e familiares


O Ministério Público do Trabalho em São Paulo afirmou que a fabricante de veículos Volkswagen abandonou uma mesa de negociação que discute possíveis reparações pela prática de trabalho escravo em uma propriedade da empresa, entre os anos de 1970 e 1980.
Segundo nota do órgão, a companhia alemã afirmou não ter interesse de firmar acordo e se retirou de uma audiência sobre o caso, nesta quarta-feira 29.
A tratativa envolvia o pagamento de 165 milhões de reais em indenizações a vítimas de trabalho escravo na Fazenda Vale do Rio Cristalino, a Fazenda Volkswagen, uma propriedade de 140 mil hectares no Pará.
De acordo com o MPT, o pagamento seria destinado a 14 trabalhadores identificados como vítimas do crime, a centenas de outros escravizados que ainda teriam de ser localizados e às famílias de assassinados.
Investigações apontam uma rotina de violações de direitos humanos, em um local de trabalho degradante.
Segundo depoimentos, as irregularidades incluem a falta de acesso a água potável e alimentação, ausência de tratamento médico para malária, impedimento de saída da fazenda e alojamentos em instalações insalubres.
“O MPT lamenta a postura da Volkswagen, que contraria seu discurso de compromisso com o país e com os direitos humanos, pois se trata de uma gravíssima violação que ocorreu durante mais de 10 anos com a sua participação direta”, diz nota da instituição.
Veja resposta da Volkswagen
“O Ministério Público Federal do Trabalho iniciou um processo administrativo contra a Volkswagen do Brasil, em 2019, e notificou a empresa apenas três anos após o início das investigações. A Volkswagen do Brasil rejeita todas as alegações apresentadas nos registros da presente investigação sobre a Fazenda Vale do Rio Cristalino e não concorda com as declarações unilaterais dos fatos apresentados por terceiros. A empresa reforça o compromisso com a responsabilidade social, continua comprometida com os valores éticos e continuará participando e contribuindo para as adequadas condições de trabalho dos seus empregados, bem como para a evolução positiva da sociedade.”
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