Justiça

Vaza Jato: Diálogos apontam interferência de Dallagnol em site O Antagonista

Site foi usado pelos procuradores da Lava Jato para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil pelo governo Bolsonaro

O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
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O site The Intercept Brasil divulgou, nesta segunda-feira 20, diálogos entre os procuradores da Lava Jato de Curitiba e jornalistas do site O Antagonista. No fim de 2018, a força-tarefa municiou o site comandado pelos jornalistas Diogo Mainardi, Mario Sabino e Claudio Dantas com documentos, a fim de alimentar notícias que evitassem que o ex-presidente da Petrobras Ivan Monteiro ocupasse a presidência do banco. Monteiro era o nome mais forte entre os cotados para assumir o BB, uma escolha do ministro da Economia Paulo Guedes – a ele era dado o crédito por ter salvado as contas da Petrobras.

Essa vazamento faz parte das conversas ocorridas no aplicativo Telegram e entregues ao Intercept por uma fonte anônima. Elas fazem parte da série Vaza Jato, que já publicou 84 reportagens em parceria com os veículos Folha de S.Paulo, El País, Bandnews FM, Veja, BuzzFeed News, Agência Pública e UOL.

Segundo o Intercept, as conversas divulgadas nesta segunda deixam claro que a Lava Jato e O Antagonista se veem como parceiros. “O comentarista Diogo Mainardi, dono e editor do site, acatou pedido de Dallagnol e parou de publicar notícias sobre um escândalo de corrupção que envolvia a Mossack Fonseca, um escritório de advocacia suspeito de abrir empresas offshore no Panamá”, cita a matéria.

Nas conversas também é possível identificar que Dallagnol passava informações privilegiadas ao site. Isso fica claro em uma troca de mensagens ocorrida no dia 30 de agosto de 2018, dentro de um chat privado, em que o procurador diz, ao entregar em primeira mão a Claudio Dantas dados que haviam sido pedidos pelo jornal El País: “Nao estamos passando pra mais ng agora”. Tratava-se de uma resposta da operação a um depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran, um crítico da Lava Jato, na Espanha.

Em outro caso, os diálogos mostram também que a Lava Jato acreditou num boato repassado por Claudio Dantas para pedir – sem autorização da Justiça – a quebra do sigilo fiscal de uma nora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2016. Para isso, os procuradores acionaram informalmente um contato na Receita Federal. Nada foi encontrado contra ela, que jamais foi indiciada ou acusada de crimes.

Procurada pelo The Intercept, a força-tarefa da Lava Jato no Paraná disse que “não há qualquer favorecimento ou privilégio no fornecimento de informações” – o que é desmentido pela reportagem. Insistiu, ainda, que “as mensagens que são atribuídas à força-tarefa têm sido usadas de modo descontextualizado ou deturpado, para fazer acusações que não correspondem à realidade”, o que o Intercept – e o bom senso – repudiam.

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