Justiça

STJ anula prova após policial relatar em podcast como obteve confissão

Na avaliação da magistrada, houve violação ao direito do silêncio

STJ anula prova após policial relatar em podcast como obteve confissão
STJ anula prova após policial relatar em podcast como obteve confissão
Policial conta em podcast como obteve confissão. Foto: Reprodução/Youtube
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A ministra Daniela Teixeira, do Superior Tribunal de Justiça, anulou a confissão de uma mulher condenada pela morte do marido após a policial civil envolvida no caso revelar, durante participação em um podcast, o método utilizado para obter a prova. A decisão foi assinada no último dia 6.

Na avaliação da magistrada, houve violação ao direito do silêncio. A ré foi acusada de homicídio qualificado contra o marido e sua confissão havia sido utilizada no processo. Os advogados da mulher, contudo, pediram a anulação da prova sob alegação de nulidades processuais.

O pedido foi negado nas instâncias inferiores. A defesa, então, acionou o STJ e apresentou um podcast Inteligência Ltda., publicado no YouTube, no qual a policial Telma Rocha descreve como obteve a confissão.

Ela relata ter visto manchas de sangue embaixo das unhas e na calça da ré. A partir disso, iniciou um diálogo com objetivo de conseguir confirmar a autoria do crime. A policial ainda diz que “enrolou” a suspeita, afirmando que ela não sairia algemada ou humilhada. Sugeriu ainda que, se confessasse, poderia obter algum benefício. A mulher, então, admitiu ter matado o marido.

Segundo a ministra do STJ, a confissão foi obtida por meio de coação psicológica e manipulação. “A paciente não foi advertida de seu direito ao silêncio e ainda foi pressionada a confessar a prática delitiva, na contramão do princípio do devido processo legal e o direito ao silêncio de todo acusado”, escreveu Teixeira.

Por isso, a magistrada anulou a confissão e também tornou nulas as provas obtidas durante a busca domiciliar, que também ocorreu sem o devido consentimento informado da acusada. O processo tramita no Tribunal de Justiça de São Paulo.

A ministra do STF ainda pediu que a Corregedoria da Polícia Civil e o Ministério Público investiguem a conduta de Telma e do perito Leandro Lopes por violarem “o dever de impessoalidade que se exige dos servidores públicos” e expor casos ainda não julgados nos meios de comunicação, com “palavreado inadequado” e em ambiente com bebida alcoólica.

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