Justiça
PF prende vereadora de João Pessoa em operação sobre aliciamento de eleitores
Rayssa Lacerda é candidata à reeleição e aliada do prefeito Cícero Lucena


A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira 19 a vereadora Rayssa Lacerda (PSB) em uma operação que investiga o aliciamento violento de eleitores e a suposta atuação de facções criminosas nas eleições de João Pessoa (PB). A parlamentar disse ser inocente e classificou a batida policial como uma “ardilosa perseguição”.
Lacerda é candidata à reeleição e aliada do prefeito Cícero Lucena (PP). Outras três pessoas foram detidas: Pollyanna Monteiro Dantas dos Santos, Taciana Batista do Nascimento e Kaline Neres do Nascimento Rodrigues.
Os investigadores apontam que Pollyanna seria uma das responsáveis por determinar o candidato apoiado pelos moradores no bairro São José, na periferia da capital paraíbana. O local está no centro das suspeitas sobre o aliciamento de eleitores com ajuda de traficantes da região.
Taciana seria o braço-direito de Pollyanna e líder na ONG Ateliê Vida. A entidade, de acordo com a polícia, era utilizada para influenciar o voto dos eleitores no São José. Por sua vez, Kaline trabalharia como articuladora da vereadora em outro bairro de João Pessoa e teria ligação com uma facção que domina o local.
As quatro passaram por audiência de custódia no início da tarde. Rayssa ficará detida no 5º Batalhão da PM na capital paraíbana; as demais seguem para o presídio feminino Júlia Maranhão. A reportagem não conseguiu contato com a defesa das investigadas até o momento.
Não é a primeira vez que a vereadora é alvo da PF. Na semana passada, ela havia sido alvo de busca em sua residência na Operação Território Livre – o nome da batida policial faz referência ao direito dos eleitores de exercer seu voto de forma independente e autônoma.
Rayssa Lacerda ficou como suplente nas eleições de 2020, quando disputou uma vaga na Câmara Municipal pela primeira vez, mas assumiu a cadeira em maio deste ano, em razão da morte de Professor Gabriel (PSB). Antes de ir para o Legislativo, ela estava lotada na secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da gestão municipal.
A vereadora foi detida dois dias antes da proibição de prisão de candidatos estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral. Essa regra não vale quando postulantes aos cargos públicos são detidos em casos de flagrante delito.
De acordo com a legislação eleitoral, o aliciamento acontece quando determinado candidato ou partido tenta convencer o eleitor, por meio da força e de outros meios ilegais, a votar em candidato ou partido diferente daquele em que naturalmente votaria. A punição nesses casos pode chegar a um ano de prisão, além do pagamento de multa.
As investigações da PF e da Polícia Civil sobre o aliciamento violento de eleitores têm marcado o debate eleitoral em João Pessoa. Na semana passada, candidatos que disputam contra o atual prefeito se reuniram e pediram à Justiça Eleitoral que o pleito na capital paraibana conte com tropas federais.
Luciano Cartaxo (PT), Marcelo Queiroga (PL) e Ruy Carneiro (Podemos) alegam que Lucena, que tenta a reeleição, possui ligações com o crime organizado. O trio relata dificuldades para fazer campanhas em muitas comunidades porque estariam sendo impedidos por facções.
A campanha de Cícero Lucena rebateu as acusações e disse que os adversários se uniram em prol de “um festival de preconceito, mentiras e ataques às instituições”. Também afirmou, em nota, que a tese levantada pelos candidatos busca macular sua imagem e a de João Pessoa.
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