Justiça

PF investiga rede de exploração sexual na Terra Indígena Yanomami

Investigações começaram após as autoridades resgatarem, na semana passada, uma jovem de 15 anos

Foto: Leo Otero/MPI
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Os casos de exploração sexual em áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Yanomami são alvo de investigação da Polícia Federal (PF). No último sábado 18, a PF deflagrou a operação Palácios, que cumpriu quatro mandados de busca e apreensão e mais quatro de prisão temporária em Boa Vista (RR).

O caso começou quando as autoridades resgataram, na última terça-feira 13, no rio Mucajaí, uma jovem de 15 anos que foi vítima de exploração sexual em garimpos. Ela relatou que passou 30 dias na região. A partir daí, a PF começou a investigar a existência de um esquema de exploração sexual e identificou os seguintes envolvidos:

Francisca de Fátima Guimarães Gomes, de 40 anos, que foi presa;

Marilene Guimarães Gomes, de 44 anos, irmã de Francisca, também presa;

Márcio Conceição Vieira, marido de Marilene; ele teve a prisão decretada, mas ainda não foi encontrado;

Thaliny Nascimento Andrade, que também está foragida.

Outras duas vítimas – de 17 e 19 anos – chegaram a relatar que eram obrigadas a fazer programa mesmo quando menstruadas. Uma das hipóteses da investigação é que as vítimas tenham sido submetidas a condições análogas à escravidão.

“Elas viviam em condições bastante precárias. Eram obrigadas, inclusive, a fazer programa no período em que estavam menstruadas. Eram obrigadas a até colocar um tampão para esconder a menstruação, e também eram impedidas de sair enquanto não quitassem a dívida, que só aumentava. Então era, assim, quase uma situação de escravidão o que elas viviam lá”, afirmou o delegado responsável pela investigação, Marco Bontempo.

Segundo Bontempo, a Polícia Federal já tinha conhecimento de casos de exploração sexual na região, mas “essa é a primeira vez que identificam uma logística tão estruturada, e que é uma das logísticas que mantém o garimpo”, informou.

O caminho da exploração

De acordo com a PF, os suspeitos ofereciam trabalho às mulheres por meio de perfis falsos nas redes sociais. Caso elas aceitassem a oferta de prostituição – havia promessa de alta remuneração e pagamento em ouro, por exemplo -, eram levadas por meio de voos clandestinos para o local. 

Ainda de acordo com os investigadores, quando as vítimas chegavam na região, os garimpeiros começavam a cobrar pelos custos do transporte, estadia, alimentação e internet, fazendo com que as mulheres contraíssem dívidas com eles. A exploração acontecia como forma de quitar a dívida ilegal com a organização criminosa. A PF informou que as vítimas relataram que chegavam a realizar mais de 15 programas por dia.

“Nos cabarés tem alguns alojamentos onde elas ficam com horário fixo de alimentação, se perder o horário, não come. Inclusive, a partir das 18 horas, todas tinham que estar prontas para iniciar o trabalho nesses cabarés, e lá elas tinham que trabalhar até o último cliente sair, eram obrigadas, inclusive, no período em que estavam menstruadas”, informou o delegado.

Bontempo disse, ainda, que as dívidas das mulheres cresciam, à medida que ficavam no local. “A dívida, na verdade, só aumentou porque era praticamente impagável”, informou.

Em depoimento à polícia, as duas vítimas informaram que os chefes da casa de prostituição em que eram alocadas ficaram com pertences delas, como forma de garantir que as vítimas não fugiriam. No relato, elas informaram que conseguiram fugir para outra região através de ajuda. Quando estavam em um barco na região de Walopali, elas foram encontradas quando a PF fazia uma fiscalização.

Os investigadores informaram que já identificaram a rede responsável pelo recrutamento ilegal na internet.

Até o momento, os representantes legais dos acusados ainda não se manifestaram.

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