Justiça

Operação mira esquema do crime organizado que movimentou R$ 52 bilhões no setor de combustíveis

Segundo o primeiro balanço, houve bloqueio de mais de 1 bilhão de reais em bens

Operação mira esquema do crime organizado que movimentou R$ 52 bilhões no setor de combustíveis
Operação mira esquema do crime organizado que movimentou R$ 52 bilhões no setor de combustíveis
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Uma megaoperação nesta quinta-feira 28, envolvendo diversos órgãos públicos em oito estados, mira um esquema bilionário no setor de combustíveis que envolve o crime organizado. Investigações apontam movimentações de mais de 52 bilhões de reais entre 2020 e 2024.

Mais de 350 pessoas físicas e jurídicas são alvos de mandados de prisão e de busca e apreensão na operação desta quinta. Agentes públicos foram às ruas desde as primeiras horas da manhã nos estados de São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Segundo o primeiro balanço divulgado pelos órgãos envolvidos, foram apreendidos 141 veículos e 300 mil reais em dinheiro. Bens que totalizam 1 bilhão de reais foram bloqueados. Houve ações em relação a 41 pessoas físicas, 255 pessoas jurídicas e o sequestro de 192 imóveis.

“Essa operação é exemplar porque conseguiu chegar no andar de cima do sistema. Para isso, a Polícia Federal e a Receita Federal têm que trabalhar juntas. Essa operação é obra de decisão política. Contra o crime organizado é preciso haver uma resposta organizada, e não há outra forma de dar uma resposta organizada sem a colaboração de todos os agentes envolvidos”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Segundo a Receita Federal, que participa da ação, é a maior operação contra o crime organizado da história do País em termos de cooperação institucional e amplitude. Também participam agentes do Ministério Público Federal e estaduais, da Polícia Federal, policiais civis e militares, Agência Nacional do Petróleo, secretarias de fazenda estaduais e outros órgãos.

“É uma das maiores operações em termos mundiais. Graças ao entrosamento da Polícia Federal, dos órgãos fazendários, da Receita Federal, com a colaboração, também, de outros órgãos, como o Ministério Público de vários estados”, disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em entrevista coletiva.

O esquema, de acordo com a Receita, incluía mais de mil postos de combustíveis vinculados ao grupo criminoso em dez estados, em todas as regiões do país. As operações financeiras eram realizadas por meio de fintechs (bancos digitais), para escapar da fiscalização mais rigorosa dos bancos tradicionais.

Em centenas de postos investigados, foram detectadas, ainda, fraudes na qualidade e quantidade do combustível vendido. Consumidores pagariam por volumes inferiores aos informados nas bombas ou, em alguns casos, receberiam combustíveis adulterados.

O grupo atuava em diversos elos da cadeia de combustíveis, não apenas nos postos. Havia pessoas do esquema infiltrados na importação, produção e distribuição. Em um dos eixos da fraude, metanol que chegava ao Porto de Paranaguá, no Paraná, era desviado e transportado de maneira clandestina.

Muitos dos alvos são empresas sediadas na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, o coração do mercado financeiro do país na atualidade. Segundo a Receita Federal, ao menos 40 fundos de investimentos seriam comandados pela facção Primeiro Comando da Capital (PCC).

Uma das empresas atingidas, a Reag Investimentos, publicou um Fato Relevante (comunicado destinado a investidores) após agentes chegarem à sede para operação de busca e apreensão. A companhia, que gerencia investimentos na ordem de 299 bilhões de reais, informou que está colaborando com as autoridades. O mercado reagiu, e as ações da Reag caíram 17% durante a manhã.

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) aponta que há participação de integrantes do PCC, associados a outras organizações criminosas, com vínculos permanentes ou eventuais com o esquema.

“O crime organizado não é mais local, não é mais apenas nacional, mas é, inclusive, global. Apenas uma visão macro, uma visão a partir do governo brasileiro, que se espraia por todos os estados, é que foi possível o êxito dessa operação”, complementou Lewandowski.

Há suspeita de crimes de contra a ordem econômica, adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, fraude fiscal e estelionato.

Em publicação nas redes sociais, o presidente Lula (PT) afirmou se tratar da “maior resposta do Estado brasileiro ao crime organizado de nossa história até aqui”.

“Nosso compromisso é proteger cidadãos e consumidores: cortar o fluxo de dinheiro ilícito, recuperar recursos para os cofres públicos e garantir um mercado de combustíveis justo e transparente, com qualidade e concorrência leal.”

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