O teatro dos burocratas farsantes para vestirem o rei nu vem aí

Se até agora a pessoa no poder não acusou a farsa da Lava Jato, saiba que ela é parte da farsa. E você pode apenas ser um idiota útil

(Foto: ABr)

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É só o começo. Assim disse Gleen Greenwald após as matérias do The Intercept que revelaram o que todo mundo com caráter e senso crítico já sabia: Moro e Dellagnol eram (e ainda são) parças no crime.

O Batman e o Robin armam estratégias, combinam recursos, se elogiam, dividem as mesmas preocupações, se aconselham, tudo em nome do país anticorrupção onde o primeiro é ministro de Bolsonaro e o segundo busca uma fundação bilionária para si.

Fosse uma linda história de amizade e parceria de trabalho, tudo bem. Mas o que dizer quando se trata do juiz de uma causa e do acusador, o qual inclusive tem dúvidas sobre a solidez de suas “provas”? O que dizer quando o juiz que trabalhou de forma incessante com seu procurador favorito para prejudicar uma chefe de Estado, um ex chefe de Estado e o candidato deste partido nas eleições assume como ministro da Justiça do rival? Isso sem considerer a demência do candidato favorecido e atual presidente que envergonha um país e prejudica o povo por gerações.

O que dizer quando todos com um pingo de honestidade intelectual já intuíam que a Lava Jato se tratava de um teatro com péssimos atores, onde a Justiça era o que menos importava? Moro é ministro de Bolsonaro, Deltan quis uma fundação bilionária para chamar de sua, o que mais falta para as pessoas acordarem? Já estamos há cinco anos nessa e se quem está no poder ainda não acusou a farsa em curso, tenha certo que ela é parte da farsa.

Sendo parte da farsa, não tenho a menor esperança de que esses burocratas vão – depois de tanto tempo – finalmente agir com ética, de acordo com o que se espera de uma magistratura independente, equidistante e pautada no respeito às provas e ao Estado Democrático de Direito. Depois de anos cumprindo esse serviço sujo, será que agora vão agir diferente, frente às evidências incontestes? Duvido. Quando o nó está bem dado, não há evidência que desamarre o rabo preso, sobretudo para quem é covarde, sobretudo para quem é safado.


Veremos então, diante dessa explosão não desejada pela turma de Curitiba, um novo teatro, dessa vez improvisado e com os atores afobados, para ultrapassar mais esse episódio da farsa.

Contarão com o apoio da mídia, com o silêncio das instituições e com a burrice do brasileiro que ainda vai a esse espetáculo de quinta categoria bater palma.

Ainda assim, um lado mais esperançoso dentro de mim sonha com esse teatro em chamas, após a peça dar errado, os atores se atropelarem e a música não se encaixar. Do lado de fora, quem está acordado participa do piquete e finalmente conseguirá transpor a segurança na entrada.

Tenho certeza que apesar de tanto esforço feito para manter esse estado atual de bizarrice no país, uma hora não haverá sustentação, o show de horror será cancelado e viveremos dias melhores. Espero que seja logo. Parabéns ao The Intercept pelas reportagens.

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