Justiça

‘Nos remete à escravidão’, diz ouvidor das polícias sobre homem amarrado e carregado por PMs

Na avaliação de Cláudio da Silva, embora a PM paulista possua uma das maiores grades teóricas em Direitos Humanos, o conteúdo não é aplicado na prática

Porta-voz das denúncias na Baixada Santista, o ouvidor Claudio Aparecido foi alvo de ameaças de morte e ataques racistas (Foto: Arquivo pessoal)
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Um homem negro, esquálido, é carregado por dois agentes da Polícia Militar de São Paulo. Tem as mãos e os pés amarrados. Mesmo contido, ele é levado por alguns metros em uma posição típica de tortura, popularmente chamada de ‘pau de arara’.

A cena foi gravada na Unidade de Pronto Atendimento na Vila Mariana, em São Paulo, no domingo 4. Mas só ganhou a devida repercussão no dia seguinte, depois de uma indignada manifestação do Padre Júlio Lancelotti nas redes sociais. 

O vídeo começa com o homem já dentro da unidade. Ele geme de dor enquanto é levado pelos corredores da unidade hospitalar por dois policiais. Sob orientação de outra PM, a dupla o coloca em uma maca, próxima à garagem da UPA. Ao ser transferido da maca para a viatura, o homem grita e pede calma; disse estar “colaborando”.
O ouvidor das Polícias de São Paulo, Cláudio da Silva, aponta violações graves de direitos na abordagem. “Nos remete a antes de 1888, quando o Estado sustentava, através da institucionalidade, esse tipo de violência contra a população negra”, afirma Silva a CartaCapital.

O órgão abriu um procedimento para esclarecer os fatos. A ouvidoria também enviará, ainda nesta quarta 7, um ofício ao secretário de segurança pública, o comandante-geral da Polícia Militar e o delegado-geral da Polícia Civil, sugerindo a criação de um grupo de trabalho envolvendo, além da ouvidoria e os demais órgãos de segurança paulistas, especialistas e movimentos sociais.

“Resolver a questão das abordagens policiais truculentas podem diminuir pela metade os problemas com a população”, disse Silva.

Na avaliação do ouvidor, embora a PM paulista possua uma das maiores grades teóricas em Direitos Humanos, o conteúdo não é aplicado na prática. “Não podemos continuar alimentando a hipótese do policial como herói. Ser herói desumaniza ele”, defende. “Precisamos virar esta chavinha e tratá-los como classe trabalhadora.”

Para esclarecer toda a ação policial, Silva enviou um pedido formal à Polícia Militar e Civil das imagens das câmeras portáteis dos agentes, da unidade hospitalar e das câmeras de segurança do local onde o homem praticou o furto.

Silva conta que foi acionado antes do vídeo ganhar repercussão. Sem se identificar, a pessoa que gravou o vídeo denunciou a abordagem e disse ter sido conduzida pelos PMs ao 27° Distrito Policial, onde foi ouvida. O denunciante relatou ainda ter sido intimidado por parte dos agentes.

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