MPF processa Salles e Zucco por intimidarem indígenas na Bahia

A ação envolve uma visita realizada por integrantes da extinta CPI do MST. O Ministério Público aponta intimidação a integrantes da etnia Pataxó

Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Apoie Siga-nos no

O Ministério Público Federal (MPF) acionou a Justiça Federal da Bahia contra os deputados Ricardo Salles (SP) e Tenente-Coronel Zucco (RS), ambos do PL, por suposta intimidação a indígenas da etnia Pataxó. O episódio ocorreu em agosto do ano passado.

O pedido, assinado pelo procurador Ramiro Rockenbach Almeida, cobra indenização equivalente a pelo menos 10% do patrimônio dos parlamentares. O valor seria destinado à etnia, presente na Terra Indígena Barra Velha, no extremo sul do estado.

A ação envolve uma visita realizada por integrantes da extinta CPI do MST – Zucco e Salles foram, respectivamente, presidente e relator do colegiado. Os indígenas acusaram os deputados de “truculência e ameaça” durante as diligências.

Vídeos que circularam nas redes sociais à época mostraram o ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro (PL) discutindo com indígenas através de um portão de madeira. Durante a conversa, os parlamentares acusaram os indígenas de invadir as terras de um fazendeiro.

Salles reforçou a acusação em seu perfil do X (antigo Twitter). “Uns índios pikachu invadiram uma fazenda na Bahia, com armas, facas e afins, tiraram a família de lá, com escritura e tudo em ordem”, escreveu.

Na ação civil pública, o MPF questiona a presença dos deputados no povoado. “Sem fazer parte do Judiciário, a quem cabe constitucionalmente tratar das questões concretas – e processos judiciais decorrentes – envolvendo controvérsias fundiárias e territoriais, os parlamentares agiram como se tivessem alguma função a exercer ali.”


O procurador também aponta “relação indissociável” entre o Movimento Invasão Zero e a Frente Parlamentar Mista Invasão Zero, liderada pelos deputados. O primeiro grupo está envolvido no conflito que terminou com a morte de uma mulher Pataxó Hã-Hã-Hãe em Potiraguá, no sul da Bahia, em janeiro deste ano.

De acordo com a Ação Civil Pública, a presença repentina dos parlamentares, acompanhados de aparato policial, incitou um “sentimento de vulnerabilidade” nos moradores, “sofrimento tão recorrente devido às diversas ameaças, agressões e assassinatos de que são vítimas as comunidades indígenas, notadamente os Pataxós”.

Em nota, Zucco classificou de “estranha e infundada” a iniciativa do MPF e disse que todas as diligências realizadas pela CPI foram respaldadas pela Constituição de 1988 e pelo Regimento Interno da Câmara dos Deputados.

“Vamos comprovar nos autos que não houve qualquer tipo de intimidação. Na condição de presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, conduzi a diligência com toda a responsabilidade e equilíbrio, jamais extrapolando minhas competências”, acrescentou.

A reportagem também procurou o deputado federal Ricardo Salles para comentar o assunto, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

1 comentário

joao medeiros 18 de abril de 2024 20h46
Estes dois deputados não tem salvação, caso sejam denunciados e investigados seus atos, estão desesperados e a espectativa em virtude de seus crimes serem descobertos e investigado. Está denuncia, possivelmente, ao que parece é uma coryina para encobrir algum crime muito mais grave.

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.