Justiça
Lessa pede para depor ao STF sem a presença dos irmãos Brazão: ‘Pessoas de alta periculosidade’
Segundo a defesa, o ex-PM tem ‘temor em depor na presença dos delatados’


Assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL), o ex-policial Ronnie Lessa prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira 27. Logo na abertura, a defesa dele pediu que a oitiva não fosse acompanhada pelos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, acusados de encomendar a morte da parlamentar.
Lessa alegou que não se sentia confortável de estar na presença deles. “É tudo muito delicado. Não estamos lidando com pessoas comuns. São pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. São muito perigosos [os irmãos Brazão], mais do que se possa imaginar”, explicou o delator.
O advogado Saulo Augusto Carvalho Santos acrescentou que o ex-PM tem “temor em depor na presença dos delatados pelo rompimento do pacto de silêncio firmado desde o segundo semestre de 2017″, período em que os planos para o assassinato de Marielle teriam começado. “É direito do colaborador participar da audiência sem contato visual com os delatados.”
O pedido foi acatado pelo juiz Airton Vieira, auxiliar no gabinete do ministro Alexandre de Moraes. A oitiva não havia acabado até às 19h desta terça. É a primeira vez que Lessa, preso desde 2019 por participação no crime, presta esclarecimentos no âmbito da ação penal que investiga as motivações do assassinato.
Além dele e dos irmãos Brazão, são réus Rivaldo Barbosa, delegado de Polícia Civil; Ronald Paulo Pereira, major da PM fluminense; e Robson Calixto Fonseca, que trabalhou como assessor de Domingos Brazão no Tribunal de Contas da Estado. Todos estão presos.
O depoimento deve confirmar pontos anteriormente elencados por Lessa em sua delação premiada. No acordo, o ex-PM apontou Chiquinho e Domingos como os mandantes do crime e confirmou ter sido o autor dos disparos que mataram Marielle e seu motorista Anderson Gomes.
O histórico de luta da vereadora contra a expansão de grupos criminosos na zona oeste do Rio de Janeiro teria motivado o crime. Em troca de executar a parlamentar, o ex-policial ganharia lotes de terras em Jacarepaguá.
O primeiro a questioná-lo na audiência foi o representante da Procuradoria-Geral da República, o promotor Olavo Pezzotti. Depois dele, a sessão abriu perguntas às assistentes de acusação das famílias de Marielle e de Anderson. Quem também deve depor nos próximos dias é o ex-PM Élcio Queiroz, outro acusado de envolvimento no crime.
Ao final da rodada de oitivas, as defesas dos réus poderão selecionar testemunhas de defesa ou pedir diligências ao STF.
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