Justiça

Justiça condena pastor por manter mulher em trabalho análogo à escravidão por 30 anos

A vítima começou a trabalhar no local ainda adolescente, aos 16 anos

Justiça condena pastor por manter mulher em trabalho análogo à escravidão por 30 anos
Justiça condena pastor por manter mulher em trabalho análogo à escravidão por 30 anos
O Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5). Foto: Reprodução
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A 7º Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) manteve, por unanimidade, a condenação de um pastor evangélico e de uma professora por crime de trabalho análogo à escravidão. O casal, que não teve o nome divulgado, submeteu em sua casa, por mais de 30 anos, uma mulher a jornadas exaustivas de trabalho e sem remuneração.

Segundo o Ministério Público Federal, a vítima começou a trabalhar no local ainda adolescente, aos 16 anos. O acórdão fixou as penas em 3 anos e 9 meses e 3 anos e 11 de meses de reclusão para o pastor e para a mulher, respectivamente, além do pagamento de multa.

Os denunciados recorreram ao TRF5 para reformar a sentença da Justiça Federal do Rio Grande do Norte que os havia condenado pela prática criminosa. O casal negava a existência de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições degradantes, alegando que o caso se resumia a uma situação de irregularidades trabalhistas.

A 7ª Turma entendeu que as provas apresentadas no processo – depoimentos de vítimas e testemunhas e relatório elaborado por auditores fiscais do trabalho – foram suficientes para comprovar o crime. O caso aconteceu em Mossoró (RN).

O casal afirmava que a mulher não era escravizada, mas tratada como filha desde que chegou na casa deles. Porém, a vítima era a única responsável pelos cuidados da casa, dos filhos e dos netos do casal, sem receber salário pelos serviços, sendo submetida à exaustão física e mental.

A mulher trabalhava de domingo a domingo, inclusive, nos feriados, e nunca teve férias. Ela recebia em troca apenas moradia, comida, roupa e alguns presentes. Além da jornada excessiva de trabalho, a vítima relatou que sofreu abusos sexuais cometidos pelo pastor durante pelo menos 10 anos.

No processo, o MPF ressaltou que o casal tinha ciência dos atos ilícitos, pois, em depoimento, o pastor confirmou que orientou a esposa sobre a necessidade de formalizar a relação trabalhista, temendo posteriores denúncias. Os condenados chegaram a recolher contribuição previdenciária da vítima por alguns meses.

O resgate foi feito em fevereiro de 2022 pela Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Previdência, em parceria com o Ministério Público do Trabalho, Polícia Federal e Defensoria Pública da União, após denúncias anônimas. Na esfera penal, o caso foi remetido à Justiça Federal por se tratar de órgão competente para julgar o crime.

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