Justiça

Em novos diálogos, procuradores criticam Moro: ‘Sacanagem. No CPP do Russo, tudo pode’

‘Russo’ é o apelido dado ao então juiz pelos membros da força-tarefa do MPF; mensagens foram apreendidas pela Operação Spoofing

O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Foto: Lula Marques/Fotos Públicas
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A defesa do ex-presidente Lula enviou nesta segunda-feira 8 ao Supremo Tribunal Federal um laudo de uma nova perícia sobre as mensagens apreendidas na Operação Spoofing. Na terça-feira 9, a Corte deve decidir se mantém ou derruba a ordem do ministro Ricardo Lewandowski que autorizou o petista a acessar os diálogos.

Em uma das conversas obtidas pelos advogados de Lula, chama a atenção uma crítica de procuradores à conduta do então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Em 23 de novembro de 2017, a procuradora Jerusa Viecili disse: “Russo tá de sacanagem”. “Russo” é o apelido dado a Moro pelos membros da força-tarefa do Ministério Público Federal.

Minutos depois, o procurador Januário Paludo perguntou: “Por que? E o contraditório e ampla defesa?”. Viecili, então, respondeu: “Pediu para fazermos o pedido hoje, antes de vencer o prazo pq ele ia viajar … e deu vista para a defesa”.

A procuradora finalizou com uma crítica direta ao então magistrado Sergio Moro: “Essa eu nao tinha visto ainda …. mas no cpp russo, tudo pode ….”. CPP, neste contexto, se refere ao Código de Processo Penal.

CartaCapital manteve as abreviações e eventuais erros ortográficos ou de digitação cometidos pelos procuradores.

Em 3 de maio de 2018, uma mensagem do então chefe da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol, fortalece as acusações de que Moro se envolvia na formalização de acordos de delação premiada, inclusive com o ex-ministro Antônio Palocci.

“Após analisarmos Palocci, temos que falar pro Moro, que não vai querer a pena aliviada num caso dele sem justificativa e tem ponte com TRF”, escreveu Dallagnol. “Segundo a Laura, o Moro quer um acordo com o Palocci pela mesma razão do Leo Pinheiro”.

Em 4 de julho de 2018, uma mensagem enviada por um procurador sinaliza a interferência de Moro em processos que corriam em Cortes superiores. “O Russo sugere a operação no início de agosto em virtude da assunção de um novo presidente do STF durante as férias”.

“Beleza. Se ele quer assim, não me oponho”, emendou a procuradora Laura Tessler.

Já em 9 de agosto de 2018, um dos procuradores compartilhou no grupo dos membros da força-tarefa no Telegram uma mensagem de Sergio Moro.

“Mensagem do Russo: ‘Esqueci de uma coisa. Na acao penal de Pasadena, um dos acusados eh o representante da Astra Oil que teria pago propina, o Alberto Feilhaber, norte-americano e residente no US. [8/8 22:11] Moro: Chegaram a avaliar a possibilidade de transferencia de informacao ou processo so US?'”.

“Não chegamos a avaliar. podemos conversar sobre isso”, respondeu Laura Tessler.

O procurador Diogo Castor de Mattos completou: “Falei com o russo da estratégia de propor a denúncia antes da operação. Não houve discordância. Vai redigindo”.

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