Justiça
Desembargador que falou em ‘mulherada louca atrás de homem’ vira alvo do CNJ
Agora, o magistrado tem quinze dias para prestar esclarecimentos sobre as falas ao conselho


O ministro Luís Felipe Salomão, corregedor nacional de Justiça, abriu procedimento disciplinar contra um desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná que criticou o feminismo e disse que, ao contrário do alegado por uma adolescente assediada pelo seu professor, são as mulheres que “estão loucas atrás dos homens”.
A decisão foi assinada nesta sexta-feira. O processo contra Luís César de Paula Espíndola deve tramitar em segredo de justiça, segundo o corregedor. Agora, o magistrado tem quinze dias para prestar esclarecimentos sobre as falas ao CNJ.
O episódio ocorreu quando a 12ª Câmara Cível do TJ, que é presidida por Espíndola, discutia a possibilidade de conceder medida protetiva à menina, na quarta-feira. O julgamento já havia sido encerrado quando ele pediu a palavra e disse ser um “absurdo estragar a vida do professor” envolvido no caso.
Nas palavras do magistrado, a situação envolveria apenas o “ego de adolescente” que “precisava de atenção” e o professor teria sido “infeliz, mas aprendeu a lição”. Uma desembargadora que estava presente reagiu, mas Espíndola reagiu dizendo que as mulheres “estão assediando todo mundo”, incluindo professores de universidades.
“Quem está correndo atrás dos homens são as mulheres. Não tem no mercado, né? A mulherada está louca para levar um elogio, uma piscada, uma cantada respeitosa. Vai no parque só tem mulher com cachorrinho, louca para encontrar um companheiro. A paquera é uma conduta que sempre existiu, sadia”, continuou.
Ao determinar a abertura do processo, Salomão afirmou que o discurso do desembargador precisa ser investigado por ser “potencialmente preconceituoso e misógino”.
“É necessário discorrer cada vez mais sobre a cultura de violência de gênero disseminada em nossa sociedade. Ela é fomentada por crenças e atos misóginos e sexistas, além de estereótipos culturais de gênero”, escreveu o corregedor.
O desembargador Luís Espíndola ainda não se manifestou sobre a assunto. Após as declarações repercutirem nas redes sociais, o magistrado afirmou que não teve a intenção de menosprezar o comportamento feminino e disse sempre ter defendido a “igualdade entre homens e mulheres, tanto em minha vida pessoal quanto em minhas decisões”.
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