Justiça
Delegado que depôs sobre trama golpista alega não saber que era investigado por blitze da PRF
Caio Rodrigo Pelim, que chefiou área de combate ao crime organizado, foi arrolado pela defesa do ex-ministro Anderson Torres


Convocado a depor ao Supremo Tribunal Federal na ação penal do golpe, o delegado da Polícia Federal Caio Rodrigo Pelim alegou ter descoberto nesta terça-feira 27, durante a oitiva, ser alvo de investigação por suposto direcionamento de blitze da Polícia Rodoviária Federal em rodovias do Nordeste para impedir o trânsito de eleitores no segundo turno de 2022.
À época, Pelim era chefe da área de combate ao crime organizado da PF. Ele foi arrolado como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, um dos 31 réus por tentativa de golpe. Quando o delegado foi chamado para iniciar o depoimento, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionou a participação dele, já que, como investigado, não poderia se comprometer a dizer a verdade, para não se autoincriminar.
Os advogados de Torres rebateram, afirmando que o delegado não foi indiciado pela PF no caso, apenas ouvido ao longo da apuração. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação na Primeira Turma do STF, manteve o depoimento, mas informou que a investigação havia sido prorrogada a pedido da PGR.
“Na verdade, a Petição 11552 não encerrou suas finalidades. Foi dado um último prazo. Então, as investigações prosseguem. Vislumbro aqui que o depoente é investigado e é citado em vários depoimentos de testemunhas e outros investigados”, disse o ministro. “Então, da mesma forma, já aviso ao depoente que ele tem direito ao silencio e à não autoincriminação. Pode se recusar a responder qualquer indagação.”
Ao ser informado, Pelim demonstrou surpresa. O depoimento do investigado pode ter peso menor que o de uma testemunha, que é obrigada a dizer a verdade. Se a investigação sobre as blitze terminar sem o indiciamento do delegado, explicou Moraes, as declarações dele serão avaliadas como as de uma testemunha.
O inquérito em questão é sigiloso. Não se sabia, por exemplo, que a PGR havia solicitado um complemento ao relatório final da investigação. Foi no âmbito dessa apuração que a PF prendeu, em agosto de 2023, o ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques, outro réu na ação sobre a tentativa de golpe em 2022.
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