Justiça

Defensoria processa União e Latam em R$ 10 milhões por morte de imigrante em aeroporto de SP

Caso ocorreu em agosto de 2024, quando mais de 500 imigrantes estavam detidos em condições desumanas na área restrita do Aeroporto Internacional de Guarulhos

Defensoria processa União e Latam em R$ 10 milhões por morte de imigrante em aeroporto de SP
Defensoria processa União e Latam em R$ 10 milhões por morte de imigrante em aeroporto de SP
Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Foto: GRU Airport/Divulgação
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A Defensoria Pública da União ingressou, nesta segunda-feira 19, com uma ação civil pública contra a União e a companhia aérea Latam pela morte do imigrante Evans Osei Wusu, de 39 anos, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, ocorrida em 13 agosto de 2024.

Na ação, a DPU pede indenizações por danos morais individuais, coletivos e danos materiais totalizando o valor de 10 milhões de reais. O documento também pede a adoção de um plano de acolhimento para os migrantes retidos que aguardam a autorização de entrada no país na área restrita do aeroporto de Guarulhos

De acordo com o defensor regional de direitos humanos da DPU em São Paulo, Murillo Martins, a ação busca ofertar uma reparação à família do ganês Wusu, mas também em coletividade a todos os imigrantes que são diariamente submetidos a situações degradantes durante o processo de acesso ou recusa ao ingresso no Brasil.

“Apontamos na petição que, a partir da investigação conduzida pela DPU, se identificou que os migrantes foram e são submetidos a situação degradante e que, no caso de Evans, resultou no extremo, que foi sua morte”, destaca Murillo. “A conclusão pela responsabilidade da União é tanto pela ausência de assistência aos migrantes retidos — e que estão nessa situação por conta de conduta da própria União, enquanto se aguarda o processamento da solicitação de refúgio — como pela demora no processamento da solicitação de refúgio”, conclui.

A ação também mira a companhia aérea Latam pela falta de assistência do momento em que Wusu estava na área restrita. A companhia, ainda segundo a DPU, deve ser punida por não prestar auxílio aos familiares após o falecimento do ganês. Para a Defensoria, a companhia sonegou informações importantes ao hospital, o que resultou no enterro de Wusu sem que sua família soubesse sobre seu estado de saúde e sepultamento.

A DPU destaca que o episódio envolvendo Wusu não se trata apenas sobre o descaso com a vida de imigrantes, mas expõe também o racismo estrutural presente nas políticas migratórias e nos serviços públicos ofertados a este grupo no Brasil. Para a Defensoria, a negligência ao quadro clínico de Wusu está diretamente ligada à sua cor e origem.

Questionada por CartaCapital, a companhia aérea Latam se limitou a informar que não iria comentar o pedido da DPU por não ter sido foi notificada oficialmente da ação.

Relembre o caso

Evans Osei Wusu, de 39  anos, chegou ao Aeroporto Internacional de Guarulhos em 4 de agosto de 2024, após ter sido deportado do México dois dias antes. Ele teria partido de Gana para tentar realizar uma cirurgia na coluna em território mexicano.

Segundo a família de Wusu, ele já possuía reserva em um hotel no México e contato direto com o médico que realizaria a cirurgia. Após receber a negativa em solo mexicano, o ganês pegou um voo de retorno, que previa conexões no Brasil e no Catar antes de retornar a Gana.

Ao chegar em São Paulo, Wusu pediu refúgio para ir a um hospital por não ter condições de saúde para retornar ao seu país sem ser atendido. Em mensagens trocadas com a família e obtidas pelo site g1, o ganês reclamava com a família que estava com muita dor e, após duas semanas retido em Guarulhos, precisava ir ao hospital urgentemente.

A certidão de óbito emitida em 13 de agosto aponta que Wusu morreu de infecção generalizada após um quadro inicial de infecção urinária. O ganês foi enterrado no Cemitério Necrópole do Campo Santo, em Guarulhos.

Ainda em agosto , a DPU protocolou um documento solicitando a investigação do Ministério Público após constatar a violação de direitos humanos nos mais de 500 imigrantes retidos, juntos de Wusu, no aeroporto de Guarulhos à espera de autorização para entrar no Brasil.

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