Justiça
Brasil vive retorno do ‘discurso do tio do churrasco’ e big techs ‘querem dominar a economia e a política’, diz Moraes
Em aula magna na USP, o ministro voltou a criticar a aliança entre gigantes da tecnologia e grupos extremistas


O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, afirmou que o Brasil assiste ao retorno do que chamou de “discurso do tio do churrasco” — uma visão de mundo preconceituosa, saudosista e ressentida. Esse fenômeno, segundo o magistrado, deve-se à concentração de renda e à ampliação de direitos para grupos historicamente marginalizados.
“Esse discurso nasce de uma revolta em momentos de crise econômica”, explicou Moraes durante uma aula magna para calouros da Faculdade de Direito da USP, nesta segunda-feira 12.”Há pessoas que ficaram com rancor pela universalização de direitos e pela excessiva concentração de renda”.
Durante 45 minutos, o ministro falou sobre a crise da democracia e o alinhamento das big techs com grupos de extrema-direita. Em sua exposição, ele ainda expôs o que considera as causas da crise da democracia. “Há uma instrumentalização das redes sociais por grupos econômicos e ideologicamente fascistas, de extrema-direita, para corroer a democracia por dentro. Esse é o nosso grande desafio”.
Moraes também argumentou que esses grupos políticos extremistas exploram ressentimentos em aliança com as gigantes da tecnologia, que, em sua avaliação, priorizam a maximização dos lucros a qualquer custo.
“As big techs não são enviadas de Deus, não são neutras, são grupos econômicos que querem dominar a economia e a política mundial, ignorando fronteiras, as soberanias nacionais, as legislações, para conseguir lucro.” disse. “E pra conseguir isso, ao longo desse período, no mundo todo, e no Brasil, as big techs foram instrumentalizadas para atacar os três pilares da democracia.”
O ministro também criticou a atuação das plataformas digitais contra o PL das Fake News. “Todas bombardearam redes dizendo que os parlamentares eram contra a democracia e a liberdade de expressão”, sustentou Moraes.
A proposta buscava conter a disseminação de notícias falsas e discursos de ódio no ambiente digital. A proposta chegou a ser pautada para votação em maio, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), recuou, alegando falta de votos para aprová-la.
Diante da resistência das big techs e da oposição bolsonarista, Lira suspendeu a tramitação e decidiu criar um grupo de trabalho para reavaliar o texto. O colegiado, que deveria concluir suas atividades em 90 dias, sequer avançou nas discussões.
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