Justiça
Barroso lembra Zambelli e 8 de Janeiro ao repudiar atentado em Brasília
O ministro também cobrou da sociedade brasileira uma “reflexão profunda” para identificar “onde perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência”


O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, lembrou uma série de ataques às instituições democráticas nos últimos anos ao comentar as explosões ocorridas na Praça dos Três Poderes, em Brasília. E disse considerar, ao abrir sessão da Corte, nesta quinta-feira, que os atos demonstram a necessidade de responsabilizar quem atenta contra a democracia.
Entre os episódios aos quais o magistrado fez referência estão os ataques dos ex-deputados Daniel Silveira e Roberto Jefferson, além da perseguição à mão armada promovida pela bolsonarista Carla Zambelli (PL) contra um apoiador de Lula (PT) às vésperas do segundo turno das eleições de 2022.
“Não há lugar para quem pensa que a violência é uma estratégia de ação. Uma causa que precisa de ódio, de mentira e de violência não pode ser uma causa boa”, observou Barroso. O ministro também cobrou da sociedade brasileira uma “reflexão profunda” para identificar “onde perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência”.
Citou ainda os atos golpistas do 8 de Janeiro e completou: “A gravidade do atentado nos alerta para a preocupante realidade que persiste no Brasil: a ideia de aplacar e deslegitimar as instituições, numa perspectiva autoritária e não pluralista de exercício do poder inspirada pela intolerância, pela violência e pela desinformação”.
Na sequência, criticou a tentativa de anistiar os responsáveis pela invasão aos prédios dos Três Poderes, no ano passado. O movimento é capitaneado por deputados bolsonaristas no Congresso Nacional, que veem na proposta uma alternativa para viabilizar o retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível por oito anos, ao xadrez eleitoral.
“Algumas pessoas foram da indignação à pena, procurando naturalizar o absurdo. Não veem que dão um incentivo para que o mesmo tipo de comportamento ocorra outras vezes. Querem perdoar sem antes sequer condenar“, acrescentou Barroso. O discurso foi encerrado com um apelo à pacificação e ao “retorno da civilidade”.
O autor das explosões na Praça dos Três Poderes, em Brasília, é Francisco Wanderley Luiz, que morreu no local. Ele foi candidato a vereador pelo PL em Rio do Sul, em Santa Catarina, em 2020. Áudios divulgados pela ex-mulher do chaveiro indicam que a intenção dele era matar o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar o episódio. O diretor-geral da corporação, Andrei Passos Rodrigues, afirmou existirem conexões entre as explosões em Brasília e um grupo extremista, em especial com participantes da tentativa de golpe em 8 de Janeiro.
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