Justiça

As motivações para morte de Mãe Bernadete, segundo a polícia

Maria Bernadete Pacífico foi assassinada em 17 de agosto com 25 tiros enquanto assistia televisão

As motivações para morte de Mãe Bernadete, segundo a polícia
As motivações para morte de Mãe Bernadete, segundo a polícia
Mãe Bernadete foi morta em 2023 – Foto: Reprodução / Redes Sociais
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O assassinato de Mãe Bernadete, ialorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, na Bahia, teria sido motivado pelo enfrentamento a interesses de uma facção do tráfico de drogas e insuflado por um morador da comunidade quilombola envolvido com extração ilegal de madeira.

As conclusões do inquérito foram apresentadas nesta quinta-feira 16 pela Polícia Civil, às vésperas do crime completar três meses.

A motivação do crime, segundo as investigações, teve início com a insatisfação de Sérgio Ferreira de Jesus, de 45 anos. Ele foi reprimido por Mãe Bernadete por conta da exploração ilegal de madeira praticada na região. O homem, então, instigou e auxiliou integrantes da organização criminosa Bonde do Maluco a realizar o crime.

Mais cedo, o Ministério Público da Bahia ofereceu denúncia contra Sérgio e outras quatro pessoas supostamente envolvidas no crime. Elas foram denunciados por homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, com uso de arma de fogo e sem chance de defesa da vítima.

Um sexto envolvido, que guardou as armas utilizadas no crime e que deu apoio na fuga de um dos atiradores, foi indiciado por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

Maria Bernadete Pacífico foi assassinada em 17 de agosto com 25 tiros enquanto assistia televisão na casa que funcionava como sede da associação do quilombo, em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.

“É claro para a equipe de investigação de que a líder quilombola era legitimada pela comunidade, tinha liderança forte pelos interesses do quilombolas, e quando sua liderança se contrapôs aos interesses do tráfico na região, ela pagou com a própria vida”, disse a delegada Andréa Ribeiro, responsável pelas investigações do assassinato.

Os traficantes Marílio dos Santos e Ydney Carlos dos Santos de Jesus foram os mandantes do crime, segundo a polícia. Já Arielson da Conceição Santos e Josevan Dionísio dos Santo, que seriam ligados à mesma facção, são suspeitos de executar o crime.

A cronologia do assassinato

Após ser repreendido por Mãe Bernadete, o morador do quilombo enviou um áudio no WhatsApp a Josevan Dionísio. No material, interceptado pelo Ministério Público, ele diz que a ialorixá estaria a preparar uma emboscada aos chefões do tráfico e pede que a informação seja transmitida a Marílio (conhecido como Maquinista) e Ydney (vulgo Café).

“Alisson, fiquei sabendo aqui dentro do quilombo que Bernadete falou que no dia da festa vai cercar tudo de polícia, vai pegar todo mundo aí. Ela tá mandando um carro preto aí cheio de polícia pra tirar fotos das barracas. Tudo é policial civil, diz que vai pegar vocês tudo de surpresa”, diz Sérgio no áudio. “Você fique ligado aí, ó. Avisa ao Café que ela que está mandando os policiais aí. Fique ligado nos carros pretos, que é polícia, e vai pegar vocês tudo na moita“.

Depois que têm conhecimento do áudio, os líderes do BDM ordenam a morte da quilombola. No dia 17 de agosto, o morador ainda forneceu detalhes de qual a melhor rota de fuga para os executores do assassinato. Após o crime, Sérgio ainda enviou outro áudio com orientações sobre o que fazer com o celular de Bernadete.

“O celular que você levou aí, tira a bateria, enterra o celular que está com o rastreador da [Polícia] Federal. Esconde bem escondido, arranca o chip e desliga o celular. Enterra essa peste, viu, que já está com rastreador um aí que você levou. O dela está com o rastreador”, diz a gravação, obtida pela polícia.

Dos cinco suspeitos, dois já tinham sido presos em setembro. Os outros três estão foragidos. As investigações contaram com acompanhamento de integrantes dos conselhos nacionais de Justiça e do Ministério Público.

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