Justiça

As chances da delação de Mauro Cid ser anulada após prisão, segundo jurista

Na avaliação de Lênio Streck, professor de Direito Constitucional, eventual anulação não teria impactos em provas obtidas nas investigação e só prejudicaria o próprio Cid

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI - 8 de Janeiro) realiza reunião para ouvir depoimento do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente da República. Cid é suspeito de articular uma intervenção militar contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após as eleições do ano passado. O colegiado ainda analisa 12 requerimentos. Chegada do depoente à sala da comissão. Mesa: tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
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A possível anulação da delação premiada firmada pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, não invalidaria as provas obtidas pela Justiça em investigações sobre uma articulação pró-golpe de Estado e só prejudicaria o militar.

A avaliação é do jurista Lênio Steck, pós-doutor em Direito e professor de Direito Constitucional.

“Não há impactos jurídicos, a não ser contra Cid, que pode ter seus benefícios anulados. A delação não é uma prova, mas um meio de prova. Ela é um processo em movimento: à medida em que vai delatando, a PF vai fazendo a verificação”, disse a CartaCapital.

Cid voltou a ser preso nesta sexta-feira após depoimento no Supremo Tribunal Federal. O militar teve de prestar esclarecimentos sobre áudios revelados pela revista Veja, nos quais afirma ter sido pressionado por agentes da PF a relatar coisas inexistentes em sua delação e faz críticas ao ministro Alexandre de Moraes.

Na oitiva, contudo, o tenente-coronel reafirmou interesse em manter o acordo de colaboração premiada e disse não ter havido coação. Mas, quando indagado sobre a pessoa a quem expôs as críticas, Cid silenciou – a atitude foi um dos motivos para levar Cid de volta à prisão, sob alegação de “obstrução à Justiça”.

À reportagem, Streck ainda descartou a possibilidade de as gravações resultarem à anulação de provas obtidas ao longo do inquérito. “Cid está tentando tumultuar a sua própria delação. Há que se apurar o modo como vazou essa gravação. O própio Cid pode estar a serviço de alguém“, acrescentou o jurista. “E [se isso for comprovado] sua situação só piorará”.

Os diálogos divulgados pela imprensa teriam acontecido após o último depoimento do militar à PF, em 11 de março.

A delação de Mauro Cid, informou o Supremo, ainda está sob análise e pode ser confirmada ou anulada. Se for anulada, o entendimento dos investigadores também é que os termos não perdem eficácia, já que ela serviu apenas como ponto de partida às investigações.

Depois da publicação dos áudios, os advogados do ex-ajudante de ordens explicaram que o conteúdo foi produzido em contexto de “desabafo”, no qual o militar “relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional” que está vivendo.

Cid foi preso pela primeira vez em maio do ano passado, no âmbito da operação que investiga falsificação de cartões de vacinação de Bolsonaro, parentes e assessores. Ficou detido por seis meses e deixou a cadeia após fechar o acordo de delação premiada.

À época, prestou esclarecimentos que nortearam o trabalho da PF em inquéritos que miram o ex-presidente, entre eles o que apura a tentativa de golpe de Estado articulada após as eleições de 2022 com objetivo de impedir a posse de Lula (PT)

Ao revogar sua prisão, contudo, Moraes impôs algumas medidas cautelares, a exemplo do uso de tornozeleira eletrônica, cancelamento de passaportes e restrições a viagens. O militar também ficou impedido de se comunicar com outros investigados e obrigado a se apresentar semanalmente à Justiça.

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