Justiça

Após mudança em música, MP da Bahia abre apuração contra Claudia Leitte

A cantora trocou saudação a Iemanjá por referência a Jesus Cristo em show; yalorixá e IDAFRO apontam intolerância

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Créditos: Divulgação
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O Ministério Público da Bahia (MP-BA) instaurou um inquérito para investigar uma possível conduta discriminatória da cantora Claudia Leitte, que alterou o termo “Iemanjá” na letra da música Caranguejo durante uma apresentação.

A artista substituiu a estrofe “Saudando a rainha Iemanjá” por “Eu canto meu Rei Yeshuá”. Iemanjá é uma orixá popular nas religiões de matriz africana no Brasil, reverenciada como divindade dos mares. Já “Yeshua” significa “salvar” em hebraico e, em algumas tradições religiosas, é considerado o nome original de Jesus Cristo.

O pedido foi formulado pela yalorixá Jaciara Ribeiro, sacerdotisa do Ilê Axé Abassa de Ogum, em conjunto com o Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (IDAFRO). Segundo os autores da denúncia, a atitude da cantora configura uma conduta “difamatória, degradante e discriminatória” contra afrorreligiosos, atentando contra a honra e a dignidade dessas comunidades.

O pedido sustenta que a alteração feita por Claudia Leitte está diretamente relacionada à sua conversão à religião evangélica, cuja retórica, segundo eles, frequentemente desqualifica e demoniza as religiões afro-brasileiras. “A mudança, portanto, resultaria não de criação artística ou genuíno sentimento pessoal dos autores, mas de explícita e improvisada motivação discriminatória, traduzida em desprezo, repulsa e hostilidade por religiões afro-brasileiras”, destaca o texto da representação.

Além disso, os autores afirmam que a substituição do termo pode ser interpretada como desrespeito à figura de Iemanjá e à Festa de Iemanjá, ambas reconhecidas como patrimônios culturais. Qualquer descaracterização ou ataque a esses elementos pode configurar ilícito civil ou penal, apontam.

Em nota, o MP-BA confirmou a abertura de um inquérito por meio da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa. A promotora Lívia Sant’Anna Vaz, titular da Promotoria, explicou que o procedimento busca apurar a responsabilidade civil da artista por um possível ato de racismo religioso, envolvendo a violação de um bem cultural e dos direitos das comunidades de matriz africana. A investigação também poderá avaliar a possibilidade de responsabilização criminal.

Entenda o caso

Em dezembro de 2024, durante uma apresentação em Salvador, a cantora Claudia Leitte alterou a letra da música Caranguejo, substituindo a referência à orixá Iemanjá pelo termo “Rei Yeshuá”. A mudança provocou uma onda críticas nas redes sociais, com acusações de intolerância religiosa e desrespeito às tradições afro-brasileiras.

O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, manifestou-se sobre o ocorrido em suas redes sociais. Sem mencionar diretamente o nome de Claudia Leitte, Tourinho afirmou que alterar referências aos orixás nas músicas configura um desrespeito à cultura afro-brasileira. Após a repercussão, ele desativou os comentários da publicação.

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