A República contra-ataca

O afastamento sumário do juiz Eduardo Appio desnuda o temor do lavajatismo em relação às denúncias de Rodrigo Tacla Duran

Imagem: Lula Marques/PT na Câmara

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Depois da anulação das condenações de Lula pelo Supremo Tribunal Federal e de ser praticamente extinta na gestão de Jair Bolsonaro, a Lava Jato foi ressignificada e retornou aos holofotes a partir de fevereiro deste ano. Isso só foi possível porque o juiz que assumiu os casos da operação na primeira instância, Eduardo ­Appio, resolveu passar a limpo os desmandos da República de Curitiba, comandada pelo então juiz Sergio Moro e pelo ex-procurador ­Deltan Dallagnol, hoje senador e depu­tado federal cassado, respectivamente. Em três meses, o magistrado reverteu várias decisões de Moro, dentre elas a ordem de prisão de Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da construtora Odebrecht que acusa Moro e Dallagnol de tentar extorqui-lo em troca de um acordo de delação premiada. Finalmente, o Judiciário parecia disposto a punir os crimes cometidos pelo grupo de inquisidores, principal responsável pelo fenômeno do bolsonarismo ou o “gérmen do fascismo”, nas palavras do ministro Gilmar Mendes, do STF.

A reação veio a galope. Na segunda-feira 22, o Conselho do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, atendendo a uma representação do desembargador Marcelo Malucelli, afastou Appio do cargo. O juiz de primeira instância, alega o desembargador, teria feito um telefonema “ameaçador” a seu filho, o advogado João Eduardo Malucelli. Namorado da filha de Moro, João Malucelli figura como sócio do Wolff & Moro Sociedade de Advogados, escritório do senador e de sua esposa, a deputada federal Rosângela Moro. Além do afastamento sumário de ­Appio, antes da conclusão da investigação, o TRF-4 determinou a devolução dos computadores e do celular funcional utilizados pelo magistrado e o proibiu de ter acesso às dependências das Justiça Federal. Appio recebeu o exíguo prazo de 15 dias para apresentar defesa.

O magistrado foi destituído antes de ter a chance de apresentar a sua defesa – Imagem: Justiça Federal/PR

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5 comentários

ricardo fernandes de oliveira 30 de maio de 2023 18h25
Também está esquisita essa história desse Tacla Duran ser chantageado. Por que exatamente ele foi chantageado e por que pagou?
ricardo fernandes de oliveira 30 de maio de 2023 17h57
Existe uma coisa esquisita nessa história de ter sido revelada a senha processual do juiz. Por que ele admitiu que a senha dele era essa? Há algo que ele fez com essa senha e que não parece ser legal. A carta capital e outros órgãos de imprensa deveriam explicar qual a importância dessa senha na história toda
ricardo fernandes de oliveira 30 de maio de 2023 17h23
Parece que a denúncia contra o juiz appio e mais grave do que a carta capital quer fazer parecer. É necessário acabar com essa paranoia de que existe uma luta do bem contra o mal, e que o mal e tudo aquilo que possa afetar lula ou o pt
Eleonilson R dos Santos 28 de maio de 2023 16h04
A ciência preconiza que o arcabouço jurídico consagra a ordem material dominante. O cinismo, nas sociedades capitalistas, ulula ostensivo, fincado adrede nas suas coisas e nas suas podres relações... O radicalismo de direita arrota tal podridão, ostentando e elevando ao seu extremo potencial todo o cinismo já arraigado no fundamento do sistema.
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 28 de maio de 2023 04h37
Conhecendo bem o juiz Eduardo Appio, trata-se de um magistrado sério, probo, de excelente reputação e de uma coragem ímpar. Na data em que fora acusado desse misterioso telefonema, o tribunal do golpe TRF-4 tentaram cassar decisões de Appio em relação a Lava Jato em que Moro cometeu atos judiciais teratológicos. Um magistrado desse envergadura não teria cometido tal desatino, embora seja de bom alvitre investigar o que aconteceu e periciar a voz de quem fez a tal “ameaça”. No entanto, nada muda, pois o advogado Tacla Duran tem provas bombásticas contra a dupla Moro e Dallagnol e outros membros da Força Tarefa da Lava jato. Se faz necessário, também, que o CNJ investigue o TRF-4, Gabriela Hardt, Malucelli... como também o supremo deve ficar atento a essa turma, pois decisões e coisas estranhas acontecem e aconteceram nesse ramo do judiciário brasileiro. Moro, Dallagnol e cia não podem escapar e saírem ilesos depois de tudo o que aprontaram, seria uma desmoralização para o poder judiciário deixar passar tudo isso em brancas nuvens.

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