Esporte

Valencia identifica torcedor racista e promete expulsar ‘para sempre’ os envolvidos

O clube condenou o episódio de racismo contra Vini Jr.; LaLiga, presidida por simpatizante da extrema-direita, é acusada de permissividade

Foto: Jose Jordan/AFP
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O Valencia Club de Fútbol, da Espanha, informou que a polícia local identificou um dos torcedores que fizeram gestos racistas contra o jogador brasileiro Vinícius Jr. Em comunicado divulgado nesta segunda-feira 22, o clube acrescentou que os trabalhos estão sendo conduzidos “de maneira coordenada para confirmar a identidade de outros possíveis implicados” e que os torcedores envolvidos serão expulsos para sempre do seu estádio, o Camp de Mestalla.

“O Clube condena veementemente este tipo de comportamento, que não tem lugar no futebol e na sociedade e que não corresponde aos valores do Valencia CF e dos seus torcedores”, divulgou a instituição. O Valencia sustentou, também, ter cedido as imagens das câmeras do estádio, a fim de colaborar com o trabalho dos investigadores.

Na tarde de domingo, em jogo válido pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol entre Valencia e Real Madrid, torcedores do time mandante proferiram insultos racistas a Vinícius Jr, chamando-o de “macaco”. O caso teve repercussão mundial. Um dos principais jogadores do elenco do Real Madrid, Vinícius Jr já foi vítima, em diversas oportunidades, de ataques racistas de torcedores espanhóis.

O Valencia informou, ainda, que pretende tratar o caso com a mesma contundência com a qual agiu em 2019, quando parte da torcida organizada do clube fez gestos nazistas e racistas em direção à torcida do clube inglês Arsenal. Um torcedor foi banido para sempre do estádio.

Extrema-direita no futebol espanhol 

Após o episódio de 2019, o jornal espanhol El Diário publicou um longo perfil da principal torcida organizada do Valencia, conhecida como Los Yomus, apontando a sua relação com a extrema-direita espanhola. O líder da torcida à época, Ramón Castro, foi um líder extremista com passagens pela polícia e tinha um símbolo neonazista tatuado no corpo.

Após o caso de domingo, um dos pontos de crítica da comunidade do futebol diz respeito à postura da organizadora do campeonato, LaLiga, na figura do seu presidente, Javier Tebas. Ao comentar o ataque sofrido, o próprio Vinícius Jr. afirmou que lamentava o fato de o racismo ser considerado normal na liga. Tebas criticou a postura do jogador merengue.

O presidente de LaLiga possui ligação com a extrema-direita espanhola. Chefe da ala jovem do partido Fuerza Nueva na década de 1970, Tebas chegou a declarar, em 2019, o seu voto no partido Vox, a principal força da extrema-direita. “Eles me parecem bons”, disse Tebas, em entrevista a uma rádio espanhola. “Se eles continuarem nessa linha, eu votarei no Vox”, afirmou.

Anos antes, em 2016, ele definiu o seu alinhamento à extrema-direita da seguinte maneira, em outra entrevista: “Se a extrema-direita significa defender a unidade da Espanha, a vida e o modo de vida católico, eu estou nesse grupo e continuo pensando o mesmo de quando estava em Fuerza Nueva“. 

Reações no Brasil

O caso de racismo contra Vinícius Jr. ganhou dimensões diplomáticas. Em nota assinada por vários ministérios e publicada nesta segunda, o governo Lula (PT) repudiou, “nos mais fortes termos”, os ataques racistas. Além disso, a gestão federal afirmou que “lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo”.

Na nota, o governo brasileiro convidou “as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos”. O governo apelou, conjuntamente, à Fifa, à Federação Espanhola e à Liga.

Também nesta segunda, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, classificou o caso como “um mal” que precisa ser combatido “na raiz”. Em entrevista, ela afirmou estar em contato com as autoridades espanholas.

“A gente vai para cima das autoridades, notificar, oficializar para que tenha uma resposta. O histórico de LaLiga não é bom, é bem racista. Ontem mesmo, o próprio presidente, diretor, quis colocar o Vini como sendo culpado por ter vivido esse racismo. E a gente está aqui para enfrentar isso em conjunto, com muita seriedade e afinco.”

Ela disse, ainda, ter entrado em contato com a vice-presidente da Espanha, Yolanda Diaz, e confirmou que o Itamaraty está articulando reuniões sobre o caso. De acordo com o G1, o Ministério das Relações Exteriores convidará a embaixadora da Espanha no Brasil, Maria Fernández-Palacios, para explicações após o episódio de racismo.

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