Esporte
Rafael Nadal, lenda do tênis, anuncia aposentadoria
Espanhol escreveu a história do esporte com títulos, vitórias improváveis e capacidade de superação


O grito de ‘vamos!‘ depois da vitória em um ponto acirrado mostrava que não havia dificuldade que não pudesse ser superada pelo tenista espanhol Rafael Nadal. Nas tantas vezes em que ecoou esse grito – com o punho cerrado, em demonstração de força – , Nadal provava aos adversários e a ele mesmo que parecia um atleta indestrutível. O mundo do esporte não escutará mais esse grito. Nem verá mais entrar em quadra o tenista que mostrou ao mundo como a junção de talento, disciplina, força e rigor tático podem criar uma lenda. Aos 38 anos, Rafael Nadal anunciou, nesta quinta-feira 10, a sua aposentadoria do esporte.
Em vídeo publicado nas redes sociais, ele confirmou a sua retirada do tênis profissional, justificando que os últimos anos têm sido difíceis. “Creio que não fui capaz de jogar [nos últimos anos] sem limitações, o que me levou a tomar esta decisão”.
“Nesta vida, tudo tem um começo e um fim, e acho que é o momento apropriado para pôr fim a uma carreira que tem sido longa e muito mais bem-sucedida do que eu poderia ter imaginado”, disse o espanhol.
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A saída de Nadal do tênis já vinha sendo especulada há um tempo. Campeão indiscutível em praticamente todas as quadras que pisou, o espanhol vinha se afastando dos torneios por sucessivas lesões.
Como costuma acontecer com grandes atletas, Nadal ainda exibirá ao público o último ato. Ele vai participar dos jogos da final da Copa Davis, o principal torneio entre países do tênis, em Málaga, na Espanha, entre os dias 19 e 24 de novembro.
Depois disso, o mundo do tênis terá que lidar com o vazio insubstituível da sua ausência. Uma sensação semelhante ao que o esporte experimentou quando um dos principais adversários da carreira de Nadal, o suíço Roger Federer, deixou as quadras em 2022.
‘Rei do Saibro’ e exemplo máximo de disciplina esportiva
No tênis, vencer um torneio de ‘Grand Slam‘ é o feito máximo que um atleta pode almejar. Há quatro deles ao longo do ano: o Aberto da Austrália, Roland Garros (na França), Wimbledon (no Reino Unido) e o Aberto dos Estados Unidos. Um único título de ‘Grand Slam‘ costuma levar um atleta à primeira categoria do esporte. Nadal venceu 22 deles ao longo da sua carreira.
Dos torneios ‘Grand Slam‘ conquistados pelo tenista, 14 foram vencidos em Roland Garros, em um dos feitos mais notáveis da história de qualquer esporte. Na França, o torneio de Roland Garros é jogado no saibro, uma superfície de terra batida que faz com que a bola ande de maneira mais lenta, exigindo do tenista rigor tático, resistência física e capacidade para jogar pontos longos. Uma arte que Nadal dominou como ninguém.
O espanhol soma 92 títulos em toda a sua carreira, nas diferentes categorias do tênis. No total, foram 1.080 vitórias e 227 derrotas, em um aproveitamento de 82,6%. As vitórias renderam respeito, troféus e dinheiro: só de premiação, Nadal ganhou US$ 135 milhões ao longo da carreira, cerca de 750 milhões de reais.
Os números frios mostram que, de fato, Nadal sai de cena como um dos maiores do tênis, ao lado de Federer e do sérvio Novak Djokovic. Porém, há algo na carreira de Nadal que os números impessoais não contam: o fato dele ser um dos maiores exemplos de superação que o esporte já produziu.
Desde cedo, a potência física de Nadal já cobrava o seu preço. Enquanto o seu principal adversário, Roger Federer, atropelava adversários com uma técnica sofisticada que, quando aplicada, parecia quase não lhe exigir esforço, Nadal traçou o caminho contrário.
Ao longo de anos, o espanhol teve que lidar com uma infinidade de lesões. Por conta de problemas físicos, ele teve que desistir de dezoito ‘Grand Slams‘ e, por várias vezes, amargou meses inteiros sem jogar. O pé esquerdo, o joelho direito, o quadril direito, o abdômen e o punho esquerdo foram algumas das partes do corpo do tenista mais afetadas por lesões.
Isso, por si só, poderia ser a grande marca negativa da carreira do espanhol. Mas Nadal, como citado, é definido pela palavra ‘superação’. Foram incontáveis as vezes que o espanhol, sob a desconfiança do público que acompanha o tênis, alcançou vitórias improváveis, conseguiu superar as suas próprias condições físicas e o adversário que estava do outro lado da rede. Essas características conferiram a Nadal uma dimensão humana apreciada pelos admiradores do esporte.
Foi Nadal, por exemplo, que protagonizou, ao lado de Federer, aquele que, para muitos, é considerado o maior jogo da história do tênis: a final do torneio de Wimbledon em 2008, vencida por Nadal. Em quase cinco horas de jogo, os dois tenistas exibiram um altíssimo nível técnico na principal quadra de tênis do mundo, em uma partida que remodelou a história do esporte.
Reações do mundo do tênis
Logo após o anúncio da aposentadoria, Federer comentou sobre o fim da carreira de Nadal. “Que carreira, Rafa! Eu sempre esperei que esse dia nunca chegasse. Obrigado pelas memórias inesquecíveis e por todos os seus feitos incríveis neste jogo que amamos. Foi uma honra absoluta”, escreveu o suíço.
Federer, aliás, viveu ao lado de Nadal os seus últimos momentos em quadra. Dois anos atrás, durante a disputa da Laver Cup, em Londres, foi icônica a imagem dos dois atletas chorando, lado a lado, cientes de aquela era a última exibição de um duelo que superou as barreiras do esporte, e que foi celebrado por fãs do mundo inteiro.
Daqui em diante, a história do tênis terá que ser contada por outros protagonistas. Um deles é o também espanhol Carlos Alcaraz, visto por muitos como uma espécie de sucessor de Nadal. Admirador do compatriota, Alcaraz se disse “em choque” com o anúncio da aposentadoria. “Rafa é meu ídolo, uma das razões pelas quais quis ser profissional do tênis “, disse o jovem tenista.
O aristocrático esporte ganhou popularidade com a carreira de Nadal, assim como com as presenças de Federer e Djokovic. Ainda não se sabe quem seguirá o legado do trio, mas, das quadras de Roland Garros aos campos de tênis amador, o nome de Nadal será citado para sempre.
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