Esporte

O que se sabe sobre o esquema de apostas no futebol

Até agora, 15 atletas profissionais e outros 15 réus responderão na Justiça à acusação de fraude em 16 jogos – 8 deles na Série A, a elite do esporte no Brasil. CBF descarta suspender torneios

Em dezembro de 2023, o presidente Lula sancionou a lei que regulamenta as bets. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
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As investigações sobre o esquema de fraudes em apostas esportivas no futebol brasileiro põem sob suspeita ao menos 20 partidas, oito delas da Série A do Campeonato Brasileiro em 2022.

O caso, em apuração pelo Ministério Público de Goiás desde o final do ano passado, ganhou nesta semana o reforço da Polícia Federal por determinação do Ministério da Justiça.

Titular da pasta, Flávio Dino afirmou, em entrevista ao portal UOL, não descartar a possibilidade de interromper ou suspender torneios – algo que vem sendo, até agora, negado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela Justiça Desportiva, entidade privada responsável por sanções administrativas.

Como funcionava o esquema das apostas esportivas

Segundo a Promotoria, o esquema da quadrilha consistia na cooptação de jogadores, mediante pagamento de valores, para que cometessem faltas e fossem, até mesmo, expulsos de campo. Apostadores lucravam com lances específicos e os valores negociados com os atletas variavam entre 50 mil e 500 mil reais. Clubes e casas de aposta não saberiam do esquema.

Através de sites online, usuários podem, além de apostar num placar específico e time vencedor, palpitar ainda sobre diferentes eventos ao longo da partida, como o número de escanteios e cartões, e associá-los a um time ou jogador específico.

De olho nas apostas em negociação antes de cada partida, a quadrilha podia escolher dentre elas e combinar antecipadamente com um jogador o resultado da aposta.

Quem são os jogadores sob suspeita

Segundo o UOL, são mais 53 atletas citados nominalmente em provas. Desses, 15 foram denunciados e viraram réus na Justiça, 4 estão colaborando com as investigações e os demais 34 são citados em conversas entre os envolvidos no esquema, mas, até este momento, não chegaram a ser denunciados formalmente.

Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa), Allan Godói (ex-Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa), Mateusinho (Cuiabá), Paulo Sergio (ex-Sampaio Corrêa), Gabriel Domingos (ex-Vila Nova), Joseph (ex-Tombense) e Romário (ex-Vila Nova) tornaram-se réus perante a Justiça em março.

A eles se juntaram, nesta semana, Eduardo Bauermann (Santos), Gabriel Tota (ex-Juventude), Paulo Miranda (ex-Juventude), Victor Ramos (ex-Portuguesa), Igor Cariús (ex-Cuiabá), Fernando Neto (ex-Operário-PR) e Matheus Gomes (ex-Sergipe).

Além dos atletas, outras 15 pessoas acusadas de operar o esquema também serão levadas a julgamento.

Quais jogos estão sob suspeita

Pelas duas denúncias aceitas até agora pela Justiça, estão sob suspeita oito partidas do Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, quatro da Série B de 2022 e quatro de campeonatos estaduais de 2023. Eis a lista:

  • Vila Nova x Sport
  • Tombense x Criciúma
  • Sampaio Corrêa x Londrina
  • Palmeiras x Juventude
  • Juventude x Fortaleza
  • Goiás x Juventude
  • Ceará x Cuiabá
  • Red Bull Bragantino x América (MG)
  • Santos x Avaí
  • Botafogo x Santos
  • Palmeiras x Cuiabá
  • Sport x Operário
  • Guarani x Portuguesa
  • Red Bull Bragantino x Portuguesa
  • Esportivo Bento Gonçalves x Novo Hamburgo
  • Caxias x São Luiz

Como o esquema de fraudes em apostas veio à tona

As investigações começaram no final de 2022, quando o volante Romário, do Vila Nova, teria aceitado uma oferta de 150 mil reais para cometer um pênalti no jogo contra o Sport, pela Série B do Campeonato Brasileiro.

A fraude – que, segundo a promotoria, teria um lucro estimado entre 500 mil e 2 milhões de reais – acabou não se concretizando, e o caso veio à tona – há relatos de que os jogadores seriam pressionados pela quadrilha. À época, o presidente do clube, Hugo Jorge Bravo, investigou o caso e entregou as provas às autoridades.

Na esfera criminal, os envolvidos no esquema podem responder por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro. No âmbito administrativo, além de estarem sujeitos a pagamento de multa, os jogadores podem acabar suspensos ou até mesmo banidos do esporte.

Sem regulação, apostas esportivas estão liberadas desde 2018; governo enviou MP ao Congresso

Casas de aposta são permitidas no Brasil desde dezembro de 2018 por um decreto do então presidente Michel Temer (MDB), mas ainda não há um conjunto de regras estabelecido para esse modelo de negócio.

Reportagem da BBC mostra que empresas têm operado esses sites de fora do Brasil, isentando-as do pagamento de impostos em território nacional.

O Governo Federal divulgou nesta semana uma proposta para regulamentar as apostas esportivas, que deve ser encaminhada ao Congresso como medida provisória, vigorando de imediato até ser apreciada pelos parlamentares dentro de um prazo de 120 dias.

A MP impõe taxação de 16% sobre a receita obtida pelas empresas com as apostas (subtraídos os prêmios pagos aos jogadores) e limita a operação desse modelo de negócios a empresas habilitadas.

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