Entrevistas

Paulo Câmara: ‘Mais importante do que os projetos partidários é vencer Bolsonaro’

O governador de Pernambuco avalia também os resultados do Consórcio Nordeste, do qual acaba de assumir a presidência rotativa

Câmara assume a presidência do Consórcio Nordeste - Imagem: Renato Stockler/Na Lata
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No último ano do seu segundo mandato, o governador Paulo Câmara, do PSB, acaba de assumir a presidência rotativa do Consórcio Nordeste, um experimento político e administrativo que tem colhido excelentes resultados, apesar do pouco tempo de existência. “Somos a região com a menor taxa de mortalidade por Covid-19”, ressalta Câmara, que atribui o desempenho à cooperação entre os estados estreitada pelo Consórcio. Câmara analisa também o governo Bolsonaro, as eleições de 2022, a aliança com o PT e os rumos de seu partido.

Confira os principais trechos. A íntegra da entrevista está no canal do ­YouTube de CartaCapital.

Consórcio Nordeste
A gente tem a responsabilidade de continuar um trabalho. O Rui Costa, governador da Bahia, fez um trabalho muito importante na constituição do Consórcio. Wellington Dias teve destaque na condução da pandemia, foi um porta-voz não apenas para os governadores do Nordeste, mas do Brasil. Somos a região com a menor taxa de mortalidade por Covid, fruto dessa condição de diálogo constante, troca de experiência, da criação de um comitê técnico para enfrentamento do vírus. Nossa responsabilidade é de aproveitar as experiências existentes. Temos 15 câmaras técnicas instaladas de um total de 18 e pretendemos instalar todas em 2022. Com as câmaras técnicas quero ter um diagnóstico preciso da região, ter alternativas, proposições de atividades e de cooperação. Que a gente possa contribuir para o Brasil do futuro, que o Nordeste seja inserido como uma região que precisa de atenção, mas que também faz parte da solução para o País avançar.

Negacionismo
Só há retrocessos em áreas que vão dar muito trabalho para reconstruir. A saúde não funciona. O trabalho dos estados e municípios foi fundamental no enfrentamento à pandemia, a gente podia ter salvado muitas vidas se a vacina tivesse chegado mais rápido. Estamos enfrentando uma Ômicron e precisamos encarar da forma certa. A gente tem de combater o negacionismo fazendo a população inteira se vacinar, continuar com as medidas protetivas, com o distanciamento, usar máscara e ouvir as autoridades ­estaduais e locais. Temos muito a oferecer para enfrentar em 2022 a paralisia do governo federal, o negacionismo e a falta de ações em muitas áreas, mostrando para a população que não dá para continuar mais quatro anos da forma que o Brasil vem sendo administrado, que a gente precisa mudar. O Nordeste está sempre muito consciente do seu papel, do futuro que quer para o Brasil e da reconstrução que vai ser necessária.

Lula e Alckmin
O Brasil não aguenta outros quatro anos da forma que está: a miséria aumenta, a fome voltou, o desemprego nas alturas, o País parado, sem política pública. Então, a nossa responsabilidade é com o Brasil primeiramente e o apoio à candidatura de Lula é fundamental. Qual é a melhor forma de a gente ajudar Lula a governar o Brasil e a vencer as eleições? O partido está à disposição para receber quadros e o ex-governador Geraldo Alckmin pode ajudar o Brasil a crescer. O PSB convidou Alckmin, colocou o partido à disposição dele, e, com a filiação, ele estará à disposição para cargos nacionais e ser companheiro de chapa de Lula.

“O apoio à candidatura Lula está acima de qualquer questão local”

Federação partidária 
O PSB tem interesse em fazer uma federação, mas, como toda coisa nova, precisa conhecer bem para não ter dúvidas. A bancada federal tem uma disposição majoritária de fazer uma federação no campo progressista. Teremos uma reunião com os partidos que vão compor, PT, PSB, PCdoB e PV, e vamos maturar tudo.

Pernambuco
O apoio à candidatura Lula está acima de qualquer questão local. O ponto principal do processo é o apoio a Lula e trazer o Brasil para um novo caminho, onde a gente possa recuperar e melhorar a vida do nosso povo. Há um indicativo nosso de apresentação de uma candidatura ao governo de Pernambuco, temos conversado com uma frente muito grande para apresentação de um nome para a nossa sucessão, que defenda a política e ao mesmo tempo tenha posições de unidade e de continuidade dos programas administrativos e de gestão que Pernambuco tem implantado desde Eduardo Campos. Temos programas que são referência no Brasil. Pernambuco vai ser o primeiro estado, agora em 2022, a universalizar o ensino de tempo integral. São políticas como essas que quero amarrar como valores fundamentais e importantes na apresentação do nosso candidato. Vamos debater isso com os partidos da Frente Popular e queremos discutir com o PT, uma grande composição à nossa sucessão que possa ajudar nacionalmente Lula. Pernambuco foi escolhido para ser o primeiro Estado a iniciar as reuniões da maneira transparente que a gente tem conduzido, tem tratado com o PT e com outros partidos aliados em torno desse tema.

São Paulo
Há uma disposição muito clara em buscar composição onde é possível. Há um desejo de Márcio França e de Fernando Haddad de serem candidatos e são disposições legítimas. Mas a questão local não pode superar a questão nacional. Acho muito válida a discussão por estado porque no âmbito nacional a gente caminha bem. No momento que a discussão sobre São Paulo acontecer, quando se sentarem à mesa tanto Haddad quanto Márcio França, que seja possível se chegar a um entendimento.

Terceira via
Neste momento, diante dos retrocessos que o País atravessa em todas as áreas, a quebra, inclusive, da confiança internacional, o campo progressista tem de fazer uma discussão muito séria sobre o futuro. A gente não pode mais dizer que “foi errado isso, aquilo ou aquilo outro”. No momento, está tudo errado. A gente precisa olhar para o futuro e apresentar soluções de reconstrução. Botar a educação no caminho, olhar para saúde pública, gerar empregos e renda, proteger o meio ambiente. Vejo um perigo muito grande caso Bolsonaro seja reeleito e não vejo nenhuma outra força do campo progressista que não seja Lula com capacidade de apresentar ideias consistentes para a recuperação do Brasil. Nem acredito numa terceira via, não vejo a terceira via apresentando nada que possa ajudar o Brasil a se recuperar. Destruir é muito fácil, muito rápido. A gente tem de se preparar para uma reconstrução, que vai ser trabalhosa. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1193 DE CARTACAPITAL, EM 2 DE FEVEREIRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Diferenças de lado”

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