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“O Nordeste tem memória”

Governadora reeleita no Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra prevê: a região dará mais votos a Lula no dia 30

O estado é pioneiro na eleição de mulheres, lembra a petista - Imagem: Everton Dantas/Rede Fátima 2022
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Única governadora eleita até o momento – a ela se juntará Marília Arraes ou Raquel Lyra, em Pernambuco –, Fátima Bezerra foi reconduzida ao cargo no Rio Grande do Norte de forma consagradora, com 58,13% dos votos válidos no primeiro turno. Após um início difícil no governo, a petista sacudiu a poeira, deu a volta por cima e tornou-se poderoso símbolo em uma eleição na qual as mulheres obtiveram um avanço tímido na conquista do poder. Na entrevista a seguir, Bezerra analisa as dificuldades enfrentadas pelas candidaturas femininas, as perspectivas do segundo turno na disputa presidencial e relata seus projetos para os próximos quatro anos. A governadora está otimista. Segundo ela, há reais chances de Lula aumentar sua votação no Nordeste.

Primeiro mandato
Ao assumirmos em janeiro de 2019, pegamos um estado falido. Se fosse uma empresa, teria a falência decretada. O estado nem sequer conseguia pagar os servidores, havia caos na segurança pública, colapso no SUS, e por aí. Formamos uma equipe muito boa, competente, com sensibilidade social, espírito público e, apesar da pandemia de efeitos devastadores, conseguimos arrumar a casa. Organizamos as finanças, quitamos as dívidas mais urgentes, sem descuidar das áreas sociais, da segurança, educação, saúde. Conseguimos resgatar o respeito e a dignidade dos servidores e recuperar a credibilidade, a confiança dos investidores, do setor produtivo. A reeleição é o resultado desse trabalho de reconstrução. A maioria do povo fez uma avaliação, sem falsa modéstia, que a professora fez o dever de casa, mesmo com um presidente da República jogando contra. Esse trabalho está associado a um fator fundamental, a perspectiva de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Lula presidente é melhor para o Rio Grande do Norte.

Mulher na política
O Rio Grande do Norte mais uma vez mostrou protagonismo no que diz respeito à participação das mulheres na política. Fui reeleita no primeiro turno. Isso tem a ver com a história do estado no pioneirismo na participação da mulher na política. O primeiro voto feminino na década de 20 (do século passado) deu-se no Rio Grande do Norte, de Celena Guimarães. A primeira prefeita eleita do Brasil e da América Latina também foi no estado, em Lages, Alzira Soriano. Aqui é a terra de Nísia Floresta, mulher inspiradora, com posição de vanguarda na defesa dos direitos femininos. A participação da mulher na política é uma agenda que nos desafia permanentemente, não podemos nunca deixar a sub-representação se naturalizar, de sermos tantas e tão poucas ainda nos chamados espaços de poder. Com Pernambuco, teremos duas mulheres governadoras. Quando se olha para o Legislativo Estadual, para o Federal, a desproporção é imensa. Isso tem tudo a ver com a sociedade patriarcal, todo esse machismo de caráter estrutural que permeia a realidade, somado ao preconceito, à violência, à discriminação que a gente enfrenta. A gente não pode abrir mão de avançar na luta para que as mulheres tenham o direito de ser o que elas quiserem. Falar desse tema é importante porque tem a ver com democracia. E não é saudável uma democracia onde as mulheres são sub-representadas.

“O Brasil não suporta mais quatro anos dessa tragédia social, política e institucional”

Lula no Nordeste
O voto de Lula está muito cristalizado. É a chama da esperança que vai se transformar em confiança e ampliar a sua votação. A temperatura em Natal e Região Metropolitana está muito boa, fiz um giro pelo interior do estado e é emocionante. Bolsonaro não tem mais espaço para crescer aqui. O Nordeste, mais do que qualquer outra região, sabe o que significou o governo Lula: a vida das suas famílias, o desenvolvimento das cidades, as políticas públicas. A memória que nós do Nordeste temos do governo Lula é uma memória de muita dignidade. Vamos ampliar a votação aqui, região que mais uma vez dá lição de altivez, de sabedoria, porque sabe que está em jogo o presente e o futuro dos nossos filhos, o destino da democracia. O Brasil não suporta mais quatro anos dessa tragédia social, política e institucional que é o desgoverno Bolsonaro. O Nordeste tem memória. Tem gratidão, sabedoria, e sabe que com Lula viveu tempos de cidadania e de prosperidade.

Bolsonarismo
A gente vai enfrentar com muita mobilização social e muita participação. Não tem outro caminho. É aquilo que o presidente Lula tem dito: ao invés dessa excrescência que é o orçamento secreto, vai ter orçamento participativo. É preciso retomar os canais de participação popular, os conselhos, os fóruns, que é o que temos feito no Rio Grande do Norte. Retomamos os conselhos da criança, do adolescente, do idoso, das mulheres, pela primeira vez temos o conselho da comunidade LGBTQIA+, o conselho da igualdade racial. É um governo que chama a sociedade. No Rio Grande do Norte, a gente combate, faz o enfrentamento todo dia no que diz respeito à violência contra as mulheres. Não é só discurso, é atitude.

Projetos
A marca do meu primeiro governo foi a reconstrução, arrumar a casa. Para o próximo período, a prioridade é o combate à fome. Já começamos, com investimentos na agricultura familiar que tem dado resultado. O Rio Grande do Norte é o primeiro estado do Nordeste e o quarto do País em segurança alimentar. Temos o programa do leite e outras iniciativas para fazer o combate à desigualdade social. Vamos ter com o presidente Lula um ambiente cada vez mais favorável aos investimentos, para trazer a iniciativa privada e gerar empregos. Temos um bom diálogo com o setor empresarial, com o setor produtivo e no campo das políticas sociais. Vamos continuar a investir na segurança, faz-se necessário trazer paz e contribuir com o desenvolvimento na saúde, fortalecendo o SUS. A educação será uma bandeira prioritária, por ter sido uma área muito afetada nos dois anos de pandemia. A crise sanitária mostrou a exclusão digital das escolas, sem falar no papel criminoso e omisso no Ministério da Educação. É diante desse quadro que assumo um compromisso de fé e de vida, até na condição de professora que sou e uma vida dedicada à educação que o setor vai merecer atenção especial. Não vou esperar para iniciar o próximo mandato. Vou instalar Wi-Fi em todas as 615 escolas da rede ­estadual. Estou entregando notebooks aos professores. Eles e os estudantes terão as ferramentas tecnológicas necessárias para aperfeiçoar o processo de ensino e aprendizagem. Vamos ampliar a educação em tempo integral e os institutos estaduais de educação profissional. Vai ser uma revolução. Vamos dar uma atenção muito especial à superação do analfabetismo. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1230 DE CARTACAPITAL, EM 19 DE OUTUBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ““O Nordeste tem memória””

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