O acerto de Lula em não rebater Bolsonaro no tema corrupção, segundo especialista

O professor e politólogo Tiago Garrido diz que o ex-presidente adotou uma estratégia correta; para ele, o debate na Band dificilmente mudou algum voto

Foto: Ricardo Stuckert

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A estratégia da campanha do ex-presidente Lula (PT), de não revidar enfaticamente o presidente Jair Bolsonaro (PL) no tema corrupção durante o debate na TV Band, foi visto como um acerto para o politólogo e professor Tiago Garrido, co-autor do livro ‘A mão e a luva – O que elege um presidente’.

Para ele, o embate entre os presidenciáveis no último domingo 28 não é capaz de alterar o cenário eleitoral, mas pode reforçar tendências já estabelecidas.  Em conversa com CartaCapital, o professor explica que os debates funcionam como uma espécie de “lembrete” de que as eleições se aproximam.

“Aqueles eleitores que avaliam o governo como ótimo ou bom, vão colando o voto em Bolsonaro”, avalia Garrido. “É possível que em uma próxima pesquisa haja uma melhora na intenção de voto nele, mas isso não se deve à uma declaração específica”.

De acordo com o professor, o mesmo efeito pode ocorrer com Lula. “O debate faz parte de uma estratégia de comunicação cumulativa e o Lula colocou mais um tijolo na parede de comunicação dele que é falar do social”, diz. “No Jornal Nacional, na pergunta sobre a Lava Jato, ele falou dos empregos destruídos pela operação. O pano de fundo desta eleição é a discussão sobre inflação e o desemprego e o Lula tratou dos temas”.

Leia a conversa:

CartaCapital: O debate na TV Band pode alterar o cenário eleitoral?


Tiago Garrido:  O debate muda pouco. Para a maioria das pessoas, o debate funciona como um lembrete de que a eleição está chegando. Aí, aqueles eleitores que avaliam o governo como ótimo ou bom, vão colando o voto em Bolsonaro. É possível que em uma próxima pesquisa haja uma melhora na intenção de voto nele, mas isso não se deve à uma declaração específica e sim porque as pessoas vão sendo lembradas de que a eleição está próxima. Para o Lula pode ser que melhore um pouco também pelo acumulativo do Jornal Nacional e do debate.

CC: As declarações do Bolsonaro sobre o Lula no tema corrupção não atingem a imagem do ex-presidente?

TG: Quando o Bolsonaro começou a falar de corrupção, o Lula olhou para a câmera e citou os feitos dos seus governos na área social. Foi uma vitrine. Não há nenhum tipo de resposta que o Lula pudesse dar contra a corrupção que fizesse muita diferença. De modo algum ia mudar o voto que ele precisa garantir no primeiro turno, que é aquele eleitorado que muda de voto sobretudo por conta da situação econômica. O debate faz parte de uma estratégia de comunicação cumulativa e o Lula colocou mais um tijolo na parede de comunicação dele que é falar do social. No Jornal Nacional, na pergunta sobre a Lava Jato, ele falou dos empregos destruídos pela operação. O pano de fundo desta eleição é a discussão sobre inflação e o desemprego e o Lula tratou dos temas.

CC: A falta de reação do Lula foi vista por parte da militância como algo negativo no discurso dele.

TG: Dificilmente teve ali uma mudança de voto. Isso é ilusório. Enquanto o Bolsonaro falava de corrupção, o Lula colocava mais um tijolo na imagem dele do social, que é o que vai mantê-lo na frente nas pesquisas.  Foi uma estratégia correta.

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