Educação

“Bolsonaro está com medo do tsunami que vem das ruas”

Presidente da União Nacional dos Estudantes e dirigentes de DCEs falam sobre a mobilização desta quarta-feira em defesa da educação

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A aposta feita por Marianna Dias, presidente da União Nacional dos Estudantes, parece ter se concretizado. Isto porque na véspera desta quarta-feira 15, data marcada para a primeira greve geral pela educação, o governo Bolsonaro sofreu mais um de seus bate-cabeças. A pauta central da mobilização é a revisão do corte de 30% no orçamento das universidades e institutos federais. “Bolsonaro está com medo do tsunami que vem das ruas”, afirma a presidente da UNE.

Já era noite quando, em entrevista ao portal UOL, o deputado Delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido na Câmara, disse que “o presidente Jair Bolsonaro ligou para o ministro Abraham Weintraub na nossa frente e pediu para rever [os cortes].” O Ministério da Educação e a Casa Civil, no entanto, negaram as informações de que o governo teria recuado.

O caso só fez aumentar a argumentação dos estudantes, que dentre outras pautas, reivindicam a revisão no corte de bolsas de mestrado e doutorado concedidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); o desbloqueio de 2,4 bilhões no ensino básico e a suspensão da descentralização dos investimentos em faculdades de Filosofia e Sociologia. “O governo Bolsonaro quer ludibriar o povo brasileiro em uma clara tentativa de ofuscar o funcionamento dos orçamentos”, afirma Pedro Pêra, estudante de Ciências Sociais e coordenador do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de São Paulo.

Ataque à educação

A USP, assim como outras universidades públicas estaduais e universidades e colégios particulares, aderiu ao movimento pelo entendimento de que o corte nas federais é um ataque generalizado à educação. A presidente da UNE concorda: “é necessário incendiar as ruas do País com os estudantes”.

Para isso, as entidades estudantis foram as responsáveis pela mobilização que deve chegar a 60 cidades brasileiras. O movimento ganhou corpo a partir de assembleias gerais em que os estudantes pautavam suas principais reivindicações sobre a gestão atual da educação do governo Bolsonaro.

 

Na Unifesp, universidade onde o ministro da Educação, Abraham Weintraub, lecionava, a precarização dos espaços é anterior ao corte orçamentário. Para a estudante de Medicina Maísa Francisco, com o corte das verbas, o provisório se tornará permanente. Ela aponta a falta de recursos para as permanências estudantis e o fornecimento de alimentação nos restaurantes universitários como os principais pontos afetados pelo corte.

“Há sim um sentimento geral de insatisfação por Weintraub, conhecendo a realidade da Unifesp, ser o executor dessa política. Parece haver também uma necessidade maior em parte dos alunos de deixar claro que ele não nos representa”, defende Maísa, que também coordena o Diretório Central dos Estudantes da universidade.

A aliança entre corpo docente e discente também tem sido um diferencial do movimento. Foi o que aconteceu na UFRN e na UFMT. “A paralisação da universidade foi deliberada não só pelos estudantes, bem como pela reitoria, corpo docente e profissionais técnicos da instituição”, disse Wesley da Mata, estudante de Filosofia e coordenador do DCE da Universidade Federal de Mato Grosso.

Na Unifesp, os estudantes aprovaram por unanimidade a adesão à paralisação

O valor dos cortes varia de acordo com o orçamento de cada universidade. Na UFPA, por exemplo, chega a 55 milhões. Na UFRJ, 114 milhões e na UFG, 30 milhões.

Questionada sobre a possibilidade de a greve se estender por mais dias e assim aumentar a pressão sobre o governo, a presidente da UNE diz que o objetivo inicial é que o movimento seja de um único dia. “A universidade precisa funcionar”, defende Marianna. “Se as universidades paralisarem por muito tempo, pode aumentar a disposição do governo em efetuar mais cortes prejudiciais às universidades”, completou.

Para Gabriela Silveira, estudante de Agronomia da UFRGS, o governo Bolsonaro elegeu a educação como seu inimigo. “Esse movimento deve ser contínuo contra todos os retrocessos do setor. O dia 15 precisa servir de motor para a sociedade”, defendeu. Certamente, um grande dia.

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