Ciências

Um dia no zoológico

As origens do zoológico e como fazer com que nas visitas, mais do que entretenimento, se tranformem em uma experiência pedagógica

Zoologico
Passeio permite observar de perto características de cada espécie Zoologico
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O homem sempre esteve ligado a animais. Nos tempos das cavernas dependiam da caça para obter a carne, o couro, a pele e os ossos que serviam para a produção de roupas, calçados, armas e utensílios.

A importância dessa dependência pode ser observada em pinturas nas cavernas como em Lascaux, na França, com registros de 17 mil anos mostrando cavalos, bisões e outros animais que viviam na região.

Leia atividade didática para o Ensino Fundamental sobre este tema

Expectativas de aprendizagem: Observar, identificar e classificar diferentes tipos de animais; Estabelecer relações entre as características e a alimentação dos seres vivos

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De olho nas aves | Características evolutivas influenciam formatos de bicos e alimentação

1)Preparação para a visita

Os animais mais procurados por visitantes são os grandes mamíferos, como os elefantes, leões e hipopótamos. Porém, os mais comuns em zoológicos brasileiros são os pequenos mamíferos e as aves. Muitas vezes as aves são deixadas de lado, mas são animais com muitas características interessantes e com ricas possibilidades para desenvolvimentos de trabalhos escolares. Na sala de aula confeccione com os alunos cartões com diferentes alimentos para as aves. Os alunos deverão levar estes cartões para a visita ao zôo.

– cartão nº 1 – figura com sementes pequenas (alpiste, painço, linhaça, quirela de milho etc)
– cartão nº 2 – figura com sementes maiores (coquinho, girassol, castanha etc.)
– cartão nº 3 – figura com peixes
– cartão nº 4 – figura com ovos e frutas
– cartão nº 5 – figura com flores
– cartão nº 6 – figura com pequenos animais e frutas (minhocas, besouros, mosquitos, amoras, bananas, mamão etc.)
– cartão nº 7 – figura com cupins
– cartão nº 8 – figura com pequenos animais aquáticos (lesmas, minhocas de água, camarões e caranguejos de água doce)
– cartão nº 9 – figura com ratos, cobras e lagartos pequenos
– cartão nº 10 – carcaça de animais

2) Observação das aves

O objetivo é que os alunos observem as aves e seus bicos e identifiquem os seus alimentos apresentados nos cartões. As espécies de aves que são facilmente observadas em zoológicos ou até mesmo nas árvores e plantas comuns nas áreas de jardins dos zoos são:

– Passarinhos de pequeno porte: canários da terra, tico-ticos, coleirinhos, papa-capins, cardeais, galos da campina, curiós, azulões etc. Seus bicos são pequenos e com formatos cônicos, servem para descascar sementes pequenas que eles encontram principalmente nos capinzais (alimentos do cartão nº 1).

– Aves: araras, papagaios, maritacas, periquitos etc. Seus bicos são curvos, arredondados e muito fortes, eles conseguem quebrar sementes duras e grandes. Durante a alimentação, algumas sementes caem no chão e acabam germinando e formando outras árvores (alimentos do cartão nº 2).

– Aves: garças, socós, biguás, martins pescadores etc. Seus bicos longos e pontiagudos são excelentes para capturar peixes (alimentos do cartão nº 3).

– Aves: tucanos e araçaris. Seus bicos longos funcionam como uma pinça. São ótimos para capturar ovos de outras aves e frutas. Mesmo parecendo cruel, caçar os ovos e filhotes dos outros faz parte da cadeia alimentar, os tucanos e araçaris são aves predadoras (alimentos do cartão nº 4).

– Aves: beija-flores. Eles adoram comer pequenos insetos e principalmente o néctar das flores, dessa maneira eles contribuem muito no transporte dos polens entre as flores, ajudando na reprodução da flora (alimentos do cartão nº 5)

– Aves: sabiás, bem-te-vis, gralhas etc. Gostam de comer frutas e pequenos animais, são chamados de aves onívoras e são grandes oportunistas na natureza (alimentos do cartão nº 6)

– Aves: pica-paus. Gostam de comer cupins, são aves bem adaptadas para bicar troncos de árvores (alimentos do cartão nº 7).

– Aves: patos, marrecos, gansos e flamingos. Usam o bico para apanhar pequenos animais na lama dos riachos e lagos (alimentos do cartão nº 8).

– Aves: gaviões, falcões e corujas. Seus bicos e garras são curvos, pontiagudos e fortes. Caçam muito bem e comem somente carne fresca (alimentos do cartão nº 8).

– Aves: urubus. Seus bicos são curvos e fortes, próprios para rasgar o couro e apanhar pedaços de carne de animais mortos. São excelentes na “limpeza” do meio ambiente, evitando moscas e outros animais que poderiam espalhar doenças.

3) Evolução

Exponha aos alunos que os formatos dos bicos são características evolutivas das aves. Isso significa que, ao longo de milhares de anos, elas foram sofrendo adaptações de acordo com o local onde vivem, as características do ambiente e o tipo de alimentos disponíveis, o que é facilmente perceptível ao observarmos os bicos das aves, cujos formatos se relacionam com o tipo de alimento que consomem.

Machos e fêmeas | Temas ligados à sexualidade e reprodução oferecem vasta possibilidade de informações e aprendizado

1) Dimorfismo sexual
As diferenças externas entre machos e fêmeas são conhecidas pelos biólogos como dimorfismo sexual. Muitos animais não apresentam diferenças entre machos e fêmeas, mas há animais que têm esta característica bem marcante; por exemplo, os leões adultos machos possuem juba e as leoas não.

Há animais que têm um modo de vida solitário, como as onças, os tamanduás e os lobos guarás. Eles encontram seus parceiros somente na época da reprodução. Após o acasalamento, as fêmeas cuidam dos filhotes sem a ajuda dos machos, até que a cria possa se virar sozinha.

Ao contrário, também há animais que vivem em grandes grupos e, mesmo não apresentando dimorfismo sexual, são capazes de reconhecer quem são os machos e fêmeas ainda que convivam em recintos com vários indivíduos da mesma espécie. As araras e papagaios são exemplos disso.

As características sexuais dos animais muitas vezes são condicionantes em um zoológico – para determinar o número de animais em cada recinto, o espaço necessário e a melhor forma de acomodar machos e fêmeas da mesma espécie.

2) Exploração animal
Esta atividade tem o objetivo de estimular os alunos a explorarem as características morfológicas que estabelecem a diferença entre os espécimes machos e fêmeas, e buscarem relacionar as condições encontradas nos recintos com o modo de vida dos animais. A seguir, os animais que podem ser visitados e as características que podem ser observadas pelos alunos:

– Algumas aves, como os pavões machos, têm penas coloridas que servem para atrair as fêmeas, que possuem penas com cores menos chamativas que servem para se camuflar no ninho, evitando os predadores. Porém, são as fêmeas que escolhem os machos mais bonitos e fortes para serem os pais dos seus bebês.

– No caso de bichos como os leões, os machos formam um grupo de fêmeas somente pra ele. Cabe ao macho a proteção dos filhotes e fêmeas, ele acasala com todas que estiverem no cio, prontas para a reprodução.

– Alguns animais como cervos e veados vivem muito bem em grupos fora do período de reprodução (outono e inverno). Já na época reprodutiva (primavera e verão), os machos desenvolvem chifres longos e fortes que são usados nas brigas entre eles. O intuito é mostrar quem é o mais forte para poder acasalar. Nos zoológicos, geralmente os machos são separados nesse período, pois podem ocorrer acidentes, até fatais.

– As fêmeas das sucuris exalam um odor muito atraente para os machos, ele é hormonal, os biólogos o chamam de feromônio. Neste período, vários machos são atraídos e as fêmeas se acasalam com vários deles.

– As fêmeas dos lobos e dos cachorros-do-mato têm um período fértil de vários dias. Eles têm ninhadas com vários filhotes que podem ser de pais diferentes, já que elas podem acasalar com alguns machos.

– Algumas aves como papagaios, araras, pinguins e cisnes são chamadas de monogâmicas. Elas formam um casal que fica junto por toda a vida. Quando um deles morre, o parceiro viúvo geralmente não se acasala com outro até a sua morte.

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Outro fato importante foi a religiosidade, já que muitos animais eram tidos como deuses. No antigo Egito, a força e a astúcia de muitos bichos eram demonstradas em figuras metade homem, metade animal.

Anúbis, o deus que guiava os mortos até a outra vida, era descrito como homem com cabeça de chacal. A grande esfinge de Gizé, que pode ser observada até hoje ao lado das pirâmides, é uma escultura da cabeça do faraó com o corpo de um leão.

Hoje em dia, ter um carro importado ou outros bens materiais é sinônimo de prestígio. No passado, o status poderia ser medido pelas coleções de animais que um rei ou imperador possuía. Os primeiros registros de coleções que se tem notícia ocorreram no Egito.

Pinturas mostram o faraó Ramses II (1.330 a. C) sendo presenteado com girafas, leões, guepardos e antílopes.
Na Roma antiga isso também se tornou uma tradição.

Ter animais de regiões longínquas era um grande feito e somente pessoas da alta nobreza tinham pavões, cervos e até elefantes do Oriente. Outras espécies como ursos e cervos vinham do Norte da Europa e da África, vinham leopardos, girafas, crocodilos e hienas.

Colecionadores e comerciantes mantinham animais para serem exibidos e vendidos aos jogos do Coliseu. Muitas coisas levam a crer que os romanos foram responsáveis pela extinção de leões que viviam em parte da Europa, do Oriente e do Norte da África. Outras feras eram trazidas de muito longe.

Quem assistiu ao filme hollywoodiano Gladiador, viu tigres sendo usados nas arenas romanas. Esse belíssimo animal era importado das regiões orientais para delírio e admiração do povo romano. Eles eram usados em combates com gladiadores ou outros animais.

Para exibição, comércio ou diversão, as coleções de animais se enraizaram por todo o mundo, surgindo assim os primeiros zoológicos chamados da Era Moderna. Os mais antigos são o de Versalhes, na França (ano de 1643), o de Viena, na Áustria (ano de 1752) e o de Londres, na Inglaterra (ano de 1828).

Para compor as coleções para diversas finalidades, os animais eram caçados aos milhares, considerados como mera mercadoria, e, caso morressem, bastava encomendar outro.

Felizmente, no século XX, as coisas mudaram um pouco. Os animais nascidos em cativeiro eram trocados por outros entre os vários zoológicos espalhados pelo mundo.

O objetivo era ainda o de diversão e exibição de bichos raros, diferentes e exóticos que cativavam e atraíam o público. Os espaços para confinamento eram precários e atendiam apenas à expectativa das pessoas, sem considerar as necessidades dos animais.

Barras de ferro, chão cimentado e espaços sem estrutura para que pudessem se abrigar. Não era incomum que fossem alimentados com uma dieta inadequada, entre outras condições equivocadas na manutenção de animais em cativeiro. Recentemente, isso vem sendo modificado.

Os zoológicos mais modernos, principalmente da Europa e dos Estados Unidos, já trazem uma maior preocupação com o bem-estar dos animais, fornecendo alimentação correta, recintos espaçosos com características semelhantes ao hábitat natural para cada espécie e elementos como vegetação adequada, lagos e piscinas, troncos e abrigos.

Nos zoológicos que adotaram este tratamento diferenciado voltado aos animais, o público visitante também ganha. Os recintos garantem aos animais condições semelhantes àquelas que encontram na natureza, mas é possível observá-los bem de perto.

Os recintos modernos são cercados com paredes de vidro, o que permite uma ótima aproximação, mas evita o contato direto com o público, pois funciona como isolante acústico e impede que sejam atirados alimentos e objetos aos animais.

No Brasil, os zoológicos ainda estão se adaptando a esses padrões, mas muitos já exibem os animais em condições muito melhores que no passado.

Mesmo que a visita a um zoológico ainda seja um momento de vivência lúdica, e seja ainda um programa de entretenimento, o bem-estar dos animais mantidos em cativeiro é fundamental.

Um papel importantíssimo que vem sendo assumido e desempenhado pelos zoológicos ao redor do mundo é o de contribuir para a conservação de espécies ameaçadas de extinção por meio da reprodução em cativeiro, para reintrodução dos animais na natureza. É um trabalho difícil, expendioso e demorado, mas algumas experiências demonstram que é possível.

Um bom exemplo é o órix da Arábia, um antílope de pelagem clara e longos chifres que foi caçado em várias regiões do Oriente Médio, até o último órix selvagem ser morto em 1972. Com o trabalho de reprodução de animais nascidos em zoológicos, hoje temos mais de mil órixs de volta à natureza e protegidos por lei.

Outros trabalhos de sucesso podem ser citados, como o realizado com os condores dos Andes e com os cavalos de Przewalsk, da Mongólia. Além disso, os zoológicos também oferecem uma significativa contribuição em estudos na área de biologia e medicina veterinária.

Todas essas funções de um zôo podem ser abordadas pelos educadores para os alunos que visitam os parque zoológicos, como podemos resumir a seguir:

1 – Aspecto histórico: como surgiram os zoológicos e qual foi a relação da humanidade com os animais nos diferentes períodos, ou em diferentes culturas.

2 – Condições de confinamento dos animais: qual o hábitat natural dos animais encontrados nos zoológicos, e como é o espaço onde estão vivendo hoje? Como é sua alimentação na natureza, e como é nos zoológicos? Os predadores são predadores nos zoológicos?

3 – Entretenimento e contato com os animais: em que momentos nos comportamos como observadores, admiradores, ou como dominantes/agressivos (quando atiramos um objeto para chamar a atenção de um animal, por exemplo)? Como devemos nos comportar em um zoológico para uma convivência mais harmônica com os animais? Por que é importante ficarmos próximos dos animais, e até tocá-los quando permitido? O que o contato com os animais desperta nas pessoas? Os animais são noturnos ou diurnos; como eles ficam na hora da visita de acordo com esse comportamento?

4 – Preservação: alguns animais podem ser encontrados apenas em zoológicos, pois na natureza são caçados, perderam seu hábitat natural, sofrem tráfico para serem comercializados. Como os zoológicos podem ajudar a proteger os animais fora de seus muros (reprodução das espécies, áreas protegidas, santuários animais)? Como as pessoas podem ajudar os animais fora dos zoológicos – não comprar animais em feiras etc)?

Um dos maiores problemas das visitas aos zoológicos é considerar o evento como um dia de entretenimento sem que os alunos estejam contextualizados ao papel dos zoológicos, à relação de respeito que se deve ter com os seres vivos que lá estão.

É comum que os professores explorem pouco o ambiente com os alunos por meio de atividades, contemplação dos animais em seus movimentos e comportamentos, identificação de características morfológicas, entre outras coisas, combinando apenas um ponto de encontro para o horário do retorno.

Por isso, é fundamental que sejam trabalhadas anteriormente e posteriormente à visita questões como as pontuadas aqui, para que a visita ao zoológico seja mais que um dia de passeio, mas um momento para reflexão e sensibilização dos alunos sobre a relação do ser humano com os animais desde os primórdios da humanidade até os dias de hoje.

*Guilherme Domenichelli é biólogo, autor de Girafa tem torcicolo? E outras perguntas divertidas do mundo animal (PandaBooks)

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