Educação
Sabotagem e misoginia embalam perseguição do MEC à UnB
Ministro Weintraub é suspeito de tentar forçar TCU a reprovar contas da reitora Márcia Abrahão


Em 9 de dezembro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, esteve no Tribunal de Contas da União (TCU) para se reunir com o ministro Walton Alencar. Às 11h11 daquele dia, quatro horas antes da hora da reunião, a reitora da Universidade de Brasília, Márcia Abrahão Moura, recebeu um email com uma dica. Weitraub pediria a Alencar que reprovasse as contas de 2017 da UnB.
O ministro, que está de férias para talvez não voltar mais ao cargo, tinha mesmo esse objetivo? É um mistério até agora, mas as ações de Weintraub e do governo Jair Bolsonaro em geral não deixam dúvidas de que a UnB, criada no governo do presidente trabalhista João Goulart (1961-1964), seja um alvo do bolsonarismo.
Dois dias depois de ir ao TCU, Weintraub participou de uma audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e fugiu do assunto, embora tenha sido perguntado a respeito por vários parlamentares. CartaCapital questionou o Ministério da Educação, via assessoria de imprensa, se as contas da UnB foram tratadas na reunião, e a pasta respondeu que não iria comentar.
Weintraub esteve na Câmara na condição de convocado, sempre um constrangimento para as autoridades, exatamente por uma história que também tem a UnB como personagem.
Em 22 de novembro, ele disse a um site bolsonarista, o Jornal da Cidade, que havia plantação de maconha e produção de drogas sintéticas nas universidades federais. No dia seguinte, citou duas delas no Twitter, a UnB e a UFMG, de Minas Gerais, e postou reportagens para ilustrar suas acusações.
A Andifes, associação nacional dos reitores, entrou com uma ação judicial contra o ministro, que foi intimado. Por iniciativa da oposição, Weintraub foi convocado pelos deputados para se explicar. E não recuou. Repetiu tudo.
A reportagem citada por Weintraub no Twitter sobre maconha na UnB era de 2017 e tratava de uma apreensão da droga em uma área que seria da universidade. Soube-se depois que a notícia era incorreta. Uma sindicância da UnB, levada adiante por um professor da faculdade de Direito em paralelo a um inquérito policial, mostrou que a plantação ficava em um terreno da Marinha localizado próximo à universidade.
A reitora na época já era a atual, Márcia Abrahão Moura, eleita em 2016, primeira mulher no cargo na UnB. A UFMG, outra atacada por Weintraub, também tem uma reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, da área de Letras (Márcia é geóloga).
O ministro demonstra misoginia latente. Em 15 de novembro, escreveu no Twitter que a proclamação da República foi o “primeiro golpe de estado” no Brasil, uma internauta comentou que ele seria “bobo da corte”, se o País voltasse à monarquia, e o ministro reagiu assim: “Prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”.
Em 25 de novembro, Jair Bolsonaro recebeu no Palácio do Planalto Marcelo Hermes Lima, líder dos “docentes livres” da UnB, eufemismo para direitistas e opositores de Márcia Abrahão, uma reitora tida como progressista.
Agora em dezembro, a UnB teve a nota de seus cursos rebaixada pelo MEC de 5 para 4, após anos com nota máxima. Não reconhece o rebaixamento, que diz ser obra de erros e de “um centésimo”, e tenta reverter a decisão.
Com menos de um mês no ministério da Educação, Weintraub anunciou o corte de 30% da verba de três universidades federais, por razões ideológicas, e uma delas era a UnB – as outras eram a UFBA, da Bahia, e a UFF, do Rio de Janeiro.
A perseguição do ministro à UnB foi tema de uma reunião do órgão máximo da instituição, o Conselho Universitário, na quarta-feira 18. Houve quem tenha apresentado aprovar uma moção a favor da demissão do ministro e um pedido de retratação.
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