Educação

“Precisamos assumir que não temos condições de retornar às aulas em 2020”

Professora Bebel, presidenta do sindicato dos professores de SP, condena debate sobre volta às aulas: ‘A defesa não é mais pelo ano letivo’

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A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) e deputada estadual (PT), Professora Bebel, é enfática ao criticar o plano de reabertura das escolas durante a pandemia de coronavírus: “Precisamos assumir que não temos condições de retornar às aulas em 2020”.

“Venho dizendo que essa discussão é precoce desde o primeiro momento, discordo de tudo”. Bebel afirma que as escolas não têm condições estruturais de acolher funcionários e estudantes agora. Segundo ela, há cerca de 1000 salas de aula que foram improvisadas – muitas, antigas bibliotecas. “Aí você se depara com aqueles vitros antigos, de cozinha, que permitem pouca circulação de ar”.

Além da questão da estrutura física das escolas, Bebel não está convencida de que o escalonamento dos estudantes funcione: “Veja, se a escola não tiver pia, papel higiênico, como vamos pensar em álcool em gel, máscaras e uma porção de outras questões que eles estão dizendo que vai ter? Não vai! Então, do ponto de vista estrutural, está claro que não temos condições”.

Cenário do coronavírus em São Paulo

Bebel também aponta inconsistências do ponto de vista sanitário. “O número de mortes em São Paulo ainda é alto; não podemos passar uma imagem de normalidade quando não se está normal”.

Ela chama a atenção para a curva de novos casos que, embora apresente alguns sinais de estabilidade nos últimos dias, segue ascendente. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde, São Paulo chegou no domingo 14 ao acumulado de 699.493 novos casos de Covid-19. No sábado 15, foram registrados 11.408 casos em 24 horas. Na sexta 14, foram confirmadas 11.367 novas infecções por coronavírus.

Experiências internacionais

Bebel toma como parâmetro casos de países que reabriram as escolas e tiveram novas ondas de Covid-19. Na Alemanha, dois estabelecimentos tiveram que ser fechados no norte do País após casos de infecção. No dia 7 de agosto, a Rádio França Internacional (RFI) destacou que “centenas de crianças de uma escola primária em Graal-Müritz tiveram de retomar o ensino remoto depois que um aluno testou positivo para o novo coronavírus.

Os Estados Unidos, primeiros em número de infecções e mortes, também confirmaram o caso de um aluno de ensino médio em Indiana, diagnosticado com Covid-19 no primeiro dia de retorno às aulas. Administradores iniciaram o protocolo de emergência, isolaram o estudante e ordenaram quarentena de 14 dias a quem teve contato próximo.

Na semana passada, o distrito escolar do condado de Cherokee, no norte da Geórgia, EUA, encaminhou 826 estudantes e 43 professores para quarentena de duas semanas após novos casos do novo coronavírus. A medida foi tomada apenas seis dias depois da reabertura escolar. A notícia, veiculada pelo UOL, tomou como base informações da Newsweek.

Em Jerusalém, Israel, a volta às aulas também não foi bem-sucedida. Mais de 150 estudantes e 25 trabalhadores da escola Gymnasia Ha’ivrit tiveram Covid-19. Contando parentes e amigos dessas pessoas fora da escola, o número de casos chegou a 260.

“A defesa não é mais pelo ano letivo”

“O governo se torna irresponsável quando coloca em jogo a vida dos outros”, afirma Bebel. “A luta, neste momento, não é mais em prol do ano letivo. Se a vida estiver salva, temos condições de aprender ao longo do tempo”.

Ela afirma que a escola pública não deve ceder às pressões das escolas particulares, e condena a estratégia dos estados de pedirem que as famílias avaliem se devem ou não mandar seus filhos para as aulas. “A responsabilidade de garantir a saúde dos estudantes não é das famílias, mas de quem foi eleito para governar, sobretudo diante da pior crise sanitária do País, que já matou mais de 100 mil pessoas e contaminou mais de 3 milhões”, atesta.

“Qualquer problema que tenhamos, vamos responsabilizar o Estado”, diz Bebel, que não descarta um movimento de greve caso a decisão de voltar às aulas seja mantida. “Ninguém está parado, as atividades remotas estão acontecendo e, inclusive, esses professores estão trabalhando mais do que já trabalhavam. Ainda terão que dar a vida?”.

Para a presidenta da Apeoesp, a rede estadual deveria neste momento encontrar maneiras de melhorar a educação a distância. “Pensar em formas de estabelecer convênios e garantir computador, internet, a todos os estudantes, como uma forma de equiparar a possibilidade da aprendizagem remota”.

Ela reforça que “o presencial” não deve ser discutido este ano: “Os conteúdos podem ser perfeitamente retomados em 2021 a partir de uma organização curricular que encaminhe a questão. Para o conhecimento, não há um tempo delimitado. Não faz o menor sentido agora ficarmos refém de um calendário burocrático”.

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