Educação

‘O Avesso da Pele’: Goiás encampa cruzada e determina a retirada do livro das escolas

A pasta justificou que a retirada é para ‘possibilitar uma análise do livro quanto ao atendimento da proposta pedagógica da rede pública estadual de ensino’.

Créditos: Foto: Carlos Macedo / Divulgação e Divulgação
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A Secretaria de Educação de Goiás é mais uma a anunciar o recolhimento do livro ‘O Avesso da Pele’, do autor Jeferson Tenório, das escolas da rede.

A pasta confirmou que emitiu a orientação às coordenações regionais de educação, e justificou que se trata de uma medida para ‘possibilitar uma análise do livro quanto ao atendimento da proposta pedagógica da rede pública estadual de ensino’.

“A Seduc/GO fará a leitura e análise com vistas a definir se o livro poderá ou não ser distribuído. O objetivo é assegurar que a obra literária que chegue à escola possa efetivamente contribuir com o desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes com base no currículo estadual”, acrescentou a secretaria, em nota.

Entenda o caso

A obra literária, que integra o Programa Nacional do Livro Didático do Ministério da Educação, é alvo de uma verdadeira ofensiva por parte de governos estaduais, desde que uma diretora de uma escola do Rio Grande do Sul questionou algumas passagens do livro por, segundo ela, ‘conter vocabulário de baixo nível’.

Na sequência, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), ligada a Secretaria de Educação do Estado, chegou a orientar a retirada dos exemplares da biblioteca da escola até que o MEC se manifestasse.

A orientação, no entanto, foi rebatida pela Secretaria de Educação que, em nota publicada no último dia 3, afirmou que “não orientou para que a obra (…) fosse retirada de bibliotecas da rede estadual de ensino” .

Além disso, que “a 6ª Coordenadoria Regional de Educação vai seguir a orientação da secretaria e providenciar que as escolas da região usem adequadamente os livros literários”. CartaCapital entrou em contato com a pasta para checar se houve alguma mudança na conduta em relação à obra.

Na segunda-feira 4, foi a vez da Secretaria de Educação do Paraná ordenar o recolhimento da obra literária das escolas da rede. A pasta encaminhou um ofício aos chefes dos núcleos regionais de educação afirmando que a coleta dos livros seria feita a partir da quinta-feira 5, se estendendo até a sexta-feira 8. A alegação foi a de que a obra passará por ‘análise pedagógica’.

A medida foi entendida como ‘censura’ por parte do estado pelo APP Sindicato, que representa os professores e escolas do Paraná.

Na quarta-feira 6, deputados do PSOL e Rede entraram com uma representação junto ao Ministério Público Federal solicitando que as condutas do governador Ratinho Jr. (PSD), do secretário de educação do estado, Roni Miranda Vieira, e do diretor da diretoria de educação do estado, Anderfábio Oliveira dos Santos, sejam apuradas tendo em vista possíveis violações constitucionais aos princípios da administração pública, entre eles o da impessoalidade.

Outro estado a determinar a retirada imediata da obra das escolas estaduais foi o Mato Grosso do Sul. Em nota enviada à CartaCapital, a Secretaria de Educação confirmou que a medida se dá após análise feita pela pasta e também atende a uma determinação do governador Eduardo Riedel (PSDB).

“A medida se dá em função da linguagem utilizada em trechos do referido material, contendo expressões consideradas impróprias para a faixa etária da maioria dos estudantes atendidos pela REE (menores de 18 anos), com o uso de termos e jargões que inviabilizam a utilização pedagógica no ambiente escolar”, justificou, em nota.

A SED informou que os livros foram inicialmente distribuídos para 75 das 349 unidades escolares da rede. E que, após o recolhimento, já iniciado, os exemplares serão encaminhados para o acervo da Secretaria de Estado de Educação.

Sobre o livro

Vencedor do Prêmio Jabuti em 2021, O Avesso da Pele se passa em Porto Alegre, nos anos de 80, e conta a história de Pedro, filho de um professor de literatura assassinado em uma desastrosa abordagem policial. Motivado pela perda, Pedro mergulha em uma investigação sobre suas origens, buscando desvendar as raízes de sua família, explorar o passado e compreender melhor a vida e os ideais do pai. O livro foi publicado em 2020 pela Companhia das Letras.

Em conversa com CartaCapital, Jeferson Tenório citou que há uma distorção sobre o tema do livro – que, ao contrário das reclamações escolares, não tem a narrativa centralizada no tema da sexualidade.

Também afirmou que as manifestações contrárias à obra estão alinhadas a um a um discurso político. “É um discurso político, um discurso que foi cooptado por um conservadorismo que vem recrudescendo no Brasil, um discurso puritano, conservador, que não aceita qualquer tipo de temática que fuja a esses princípios”.

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