Um levantamento da ONG Todos pela Educação, divulgado nesta terça-feira 8, aponta que o Brasil atingiu o maior patamar, desde 2012, de crianças entre 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever.
Ao todo, 40,8% das crianças nessa faixa etária não foram alfabetizadas, o que representa quase 2,4 milhão de crianças.
Na pesquisa anterior, encontravam-se na mesma condição cerca de 1,4 milhões de crianças nesta faixa etária. O que significa que em um ano houve um crescimento de 15,7 pontos percentuais quando comparado com 2020 e 65,6% em comparação com os números de 2019.
O cenário é ainda mais preocupante quando se observa pelo recorte racial. Entre as crianças negras, o valor sobe para 47,7%.
A pandemia foi, novamente, um dos fatores que escancararam as desigualdades. Além de crianças pretas e pardas terem tido menos acesso à educação à distância, foram os mais prejudicados pelos fechamentos das escolas.
“Os dados reforçam o que outras pesquisas já apontaram, a pandemia teve impactos brutais no aprendizado das crianças e reforçou as imensas desigualdades que já existiam no país. É urgente colocar em prática políticas que tenham como prioridade o ensino das crianças mais pobres, pretas e pardas”, diz Gabriel Corrêa, gerente de políticas educacionais do Todos pela Educação.
O levantamento também traz um alerta sobre o futuro.
“A evasão escolar já é maior entre pretos e pardos. Se não houver políticas públicas para reparar as aprendizagens dessas crianças, em alguns anos esse pode ser mais um dos motivos que vai levá-las a abandonar a escola”, diz o gerente.
A pesquisa divulgada pela ONG usou como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo IBGE. Foi analisada a faixa etária dos 6 ao 7 anos, dado que, por lei, este é o período determinado para que crianças sejam alfabetizadas no País.
Atuação governamental
Desde o início da pandemia causada pela Covid-19, o governo federal junto com o Ministério da Educação, não desenvolveram nenhum programa ou previram a distribuição de verbas extras para reverter os impactos no aprendizado das crianças brasileiras.
Com a ausência da União, estados se mobilizaram financeiramente para suprir a demanda.
“As escolas municipais são responsáveis pela maioria das matrículas nos anos iniciais do fundamental, mas não podemos achar que o desafio é só ter as crianças dentro da sala de aula, precisamos garantir educação de qualidade. E os estados precisam ajudar”, afirma Corrêa.
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