Educação

MEC vai investigar reitor de universidade federal que chamou de ‘pacíficos’ atos terroristas em Brasília

Janir Alves Soares tem se manifestado publicamente contra o resultado das eleições e justificado a invasão de bolsonaristas aos prédios do Três Poderes

Janir Alves Soares tem se manifestado publicamente contra o resultado das eleições e justificado a invasão de bolsonaristas aos prédios do Três Poderes. Créditos: Reprodução Redes Sociais
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A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT-MG) encaminhou um ofício ao ministro da educação, Camilo Santana, pedindo a exoneração do reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Janir Alves Soares, por manifestações de apoio aos atos terroristas ocorridos em Brasília, no domingo 8.

No documento, datado do dia 9 de janeiro, a parlamentar lista uma série de publicações feitas por Soares justificando a invasão dos apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Praça dos Três Poderes, e a estruturas como Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal, classificando-a como ‘pacífica’.

“Queridos patriotas, no dia 01 de novembro, estivemos aqui nesta BR, participando de uma manifestação democrática, com a livre e espontânea adesão de motoristas por uma paralisação nacional. De lá para cá, tivemos inúmeras ações, inúmeros movimentos democráticos, pacíficos e nesta data de hoje, nesta tarde, a poucos minutos, o povo assumiu o comando do Congresso Nacional, de uma maneira pacífica”.

“Hoje nós tivemos a sensibilização, inclusive das pessoas responsáveis pela guarda do Congresso, pois entenderam que esta casa é do povo e o povo quer o respeito às leis e a manutenção do Estado e da ordem. Este é o Brasil que nós queremos queremos deixar para os nossos filhos e netas, eu me orgulho de ser brasileiro e lutar por esta pátria. Parabéns a todos que não desistiram, ao longo de 68 dias de luta, de trabalho e de defender as cores da nossa bandeira. Deus, Pátria, Família e Liberdade. Forte abraço a todos”, disse o reitor em um vídeo publicado em suas redes.

Soares também ventila em suas publicações a tese inverídica de fraude eleitoral, uma das principais narrativas utilizadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para mobilizar a sua base de apoio desde o período das eleições, que elegeram Lula (PT).

“O povo pediu uma eleição justa, não foram atendidos”. A frase consta em uma imagem publicada pelo reitor no dia 9 de janeiro, que termina com a afirmação: “Essas pessoas têm motivos para estar lá”.

Na peça, a parlamentar considera a atitude de Soares criminosa, além de um atentado contra o estado de direito e suas instituições democráticas, motivo pelo qual, além da exoneração, pede a apuração de sua conduta no exercício do cargo.

A partir do momento em que o Sr. Janir, sente-se autorizado a apoiar direta ou indiretamente de atos que afrontam a vontade soberana da população manifestada nas urnas, demonstra que adotou um comportamento contrário aos princípios mais básicos do regime republicano, que é o único no qual as Universidades podem funcionar de forma livre”, destaca a parlamentar em um trecho do ofício.

Beatriz Cerqueira foi acompanhada por outros 23 deputados de Minas Gerais que endossaram as mesmas denúncias, dessa vez em um ofício encaminhado ao presidente Lula, no dia 11 de janeiro.

Não é a primeira vez que a parlamentar faz denúncias sobre o reitor. Em novembro de 2022, a deputada estadual encaminhou uma denúncia ao Ministério Público de Minas Gerais acerca da postura pública de Soares de se colocar contra o resultado das eleições, ‘fomentando os atos antidemocráticos espalhando desinformação à população”, destacou.

Na ocasião, a deputada anexou à denúncia um documento redigido e protocolado por Soares ao Comandante do 3° Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), solicitando apoio para o bloqueio das estradas, ato antidemocrático que foi realizado em diversos estados do País.

Eu sou Janir Alves Soares, membro de um grupo de pessoas diamantinenses e apoiadores do movimento nacional pela INTERVENÇÃO FEDERAL, contra a posse de um LADRÃO, DESCONDENADO e CORRUPTO que pretende assumir a presidência do nosso país”, anuncia o reitor, que continua:

“Nosso grupo está representado por trabalhadores, cidadãos ordeiros e patriotas, razão pela qual manifestamos nossa reprovação ao resultado desta eleição presidencial ocorrida neste mês de outubro de 2022. Além disso, estamos bastante temerosos à pauta econômica, da educação, da liberdade de imprensa (censura), da liberdade de expressão, da agenda de costumes, da intolerância religiosa, enfim, do regime de governo comunista defendido pelo ex-presidente Lula”.

Reitor interventor

Soares foi nomeado como reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri em 2019, pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), dentro de uma postura de não seguir a decisão da maioria da comunidade universitária. A chapa do então candidato a reitor  recebeu apenas 5,2% dos votos válidos dos professores, funcionários e alunos da UFVJM. Desde então, vem sendo denunciado por instituições representativas de docentes e estudantes pela gestão autoritária.

Como consequência do apoio aos atos ilegais em Brasília, o reitor foi desligado do Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (FORIPES). A decisão foi anunciada no próprio dia 8 pelo presidente do órgão, Marcelo Pereira de Andrade, reitor da Universidade Federal de São João del-Rei.

“O Foripes considera que o ataque golpista fere os três Poderes da República e atinge toda a nação”, destacou o fórum no comunicado de desligamento, reiterando que a condição não se estende à comunidade acadêmica da UFVJM, “que terá o apoio do FORIPES na defesa da democracia, do povo, da Constituição Federal e das instituições públicas”.

No último dia 9, a diretoria do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) também divulgou uma nota de repúdio contra as postagens do reitor interventor.

“Bolsonaro nomeou seus interventores nas universidades brasileiras para operar a destruição da educação superior no Brasil e, mesmo após sua derrota nas urnas, esses interventores golpistas, a exemplo de Janir na UFVJM, continuam atacando a democracia interna das universidades, bem como participando e incentivando os atos golpistas e terroristas nesse início de 2023. Declaramos todo nosso apoio e nossa solidariedade com a comunidade acadêmica da UFVJM!”, diz o comunicado.

O que diz o MEC

Em nota, o Ministério da Educação disse que recebeu a denúncia encaminhada pela parlamentar e que será aberto um processo de apuração junto a corregedoria do MEC, seguindo todos os trâmites legais.

A reportagem de CartaCapital tentou contato com Janir Alves Soares para comentar o caso, mas não obteve respostas. Também pediu posicionamento da UFVJM, mas não o recebeu até o fechamento da reportagem.

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