Educação
Faculdade de Direito da USP decide se mantém homenagem a professor eugenista
Amâncio de Carvalho, catedrático de Medicina Legal, é acusado de promover maus tratos ao corpo de uma mulher negra no início do século XX


A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo vai decidir, na quarta-feira 30, se retira ou mantem uma homenagem feita a um professor ligado à Sociedade Eugênica de São Paulo e a maus tratos contra o corpo de uma mulher negra. As informações são da colunista Mônica Bergamo.
Amâncio de Carvalho, catedrático de Medicina Legal, teria embalsamado o corpo de Jacinta Maria de Santana para usá-lo em experimentos e em trotes estudantis no Largo de São Francisco, na capital paulista, no início do século 20. Atualmente, Carvalho dá nome a uma das salas de aula da instituição.
A retirada do nome do docente do espaço passou a ser tema de discussão na universidade em 2021 e, no ano passado, chegou à Congregação da Faculdade de Direito, instância máxima para a deliberação dos assuntos da instituição. O desfecho, no entanto, vem sendo adiado por uma sucessão de pedidos de vista, como o último apresentado em novembro de 2022.
Professores e estudantes favoráveis à retirada da homenagem elaboraram um relatório sobre os supostos abusos contra Jacinta praticados pelo docente que, à época, era vice-presidente honorário da Sociedade Eugênica de São Paulo. O relator do caso, o professor Renato de Mello Jorge Silveira, titular do Departamento de Direito Penal da faculdade, chegou a defender a manutenção da homenagem e depois apresentou um pedido de vista para reavaliar as evidências.
Segundo pesquisa da historiadora Suzane Jardim, divulgada pelo portal Ponte Jornalismo, Jacinta era uma mulher pobre que não tinha residência fixa e vivia na região central da cidade de São Paulo. Ela morreu em 26 de novembro de 1900, a caminho de um hospital, após passar mal.
De acordo com a historiadora, seu cadáver foi entregue a Amâncio de Carvalho com o objetivo de viabilizar o aperfeiçoamento de estudos sobre embalsamento. Mas, por cerca de três décadas, o corpo da mulher negra teria sido usado na para ilustrar aulas de medicina legal da Faculdade de Direito e também em trotes.
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