Educação
Em Santos, dirigente sugere que coordenadores e professores limpem o mato das escolas
A responsabilidade por manter contratos terceirizados de zeladoria com as escolas é da Diretoria de Ensino, afirma especialista
O dirigente regional de ensino de Santos, João Bosco Arantes Braga Guimarães, sugeriu que supervisores e professores coordenadores de núcleos pedagógicos arassem o terreno das escolas para prepará-las para a volta às aulas. A rede segue o calendário estadual para retorno presencial a partir da segunda-feira 8, em formato de rodízio. As escolas, no entanto, estão abertas desde o dia 1º de fevereiro para organização das unidades.
“O que falarem pra gente, a gente corre atrás. Agora fica a parte de vocês, que é escola preparada dia 1º, roçada, pega lá uma roçadeira. Às vezes foram três supervisoras na escola, dá uma roçadeira para cada uma e vamos roçar o mato”, disse Guimarães em uma reunião virtual.
“Os PCNPs [professores coordenadores de núcleos pedagógicos] estão lá na escola, já deu a parte deles de serviço, a roçadeira tá lá parada, já pega a roçadeira e vai limpar”, acrescentou.
A manifestação do dirigente gerou revolta nas redes sociais. Pessoas afirmaram que Guimarães sugere desvio de função no funcionalismo público, ferindo não só o estatuto, mas os direitos trabalhistas, já que há equipes responsáveis pela tarefa.
Fernando Cassio, professor da Universidade Federal do ABC e integrante do grupo de pesquisa Direito à Educação, Políticas Educacionais e Escola, também condenou a atitude do dirigente, a quem classificou como “despreparado”.
“A obrigação de fazer licitações e manter contratos de serviços terceirizados para manutenção, limpeza, zeladoria e manipulação de alimentos nas escolas é da Diretoria de Ensino”, afirma o pesquisador. “Se ele está mandando as pessoas roçarem o terreno por falta de funcionários, a responsabilidade é acima de tudo dele próprio, o que torna o discurso ainda mais cínico”.
Para Cassio, a declaração depõe contra a política da secretaria de Educação de São Paulo de manter gestores profissionais nos cargos de liderança. “Se tudo é um apelo ao voluntarismo, ele deveria ser a primeira pessoa a pegar a roçadeira”.
Com a palavra, a Secretaria:
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) esclarece que o dirigente regional de Santos se expressou de maneira inadequada durante a reunião. As escolas da rede estadual possuem contratos com empresas de limpeza para a realização deste tipo de trabalho, inclusive através de investimentos como o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Em 2020, as 5,1 mil escolas estaduais receberam R$ 700 milhões pelo Programa Dinheiro Direto na Escola de SP. A verba foi destinada para manutenção e conservação das unidades para a volta segura das aulas presenciais. Outros R$ 700 milhões já foram liberados para os preparativos do ano letivo de 2021. O dirigente será reorientado e está à disposição para esclarecimentos.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.