Editorial

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O vaticínio de Malaquias

Profeta é aquele que já enxerga o futuro, ensina Raymundo Faoro

O vaticínio de Malaquias
O vaticínio de Malaquias
O carro do futuro é o Lamborghini de luxo movido a energia elétrica, à espera de uma produção popularizada – Imagem: Elie Bekhazi/GIMSQAT/AFP
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O papa, que não estava bem, melhorou bastante. Esta é uma boa notícia. Está largamente provado que Francisco é uma presença benéfica para todos, crentes ou não. O que pode inquietar é a profecia de Malaquias: Francisco seria o último papa antes do Apocalipse. A definição da profecia é, na verdade, muito convincente: Pastor et Nauta – Pastor e Timoneiro. As profecias, esclarecia-me o fraterno amigo Raymundo ­Faoro, são o resultado de uma visão profunda das coisas do mundo, antecipadas por quem goza deste bem. Não significa, está claro, que Malaquias esteve cem por cento certo.

Registremos, contudo, o seu vaticínio, já que o risco, inegavelmente, existe, a começar pela crise ambiental e pelos efeitos da pandemia de Covid-19, cujas consequências ainda per

duram. Talvez Malaquias pudesse dispensar o oftalmologista, mas faz sentido que neste espaço eterno e infinito o homem acabe por destruir a si mesmo. É forçoso, inquietante, que as premissas do Apocalipse estejam presentes, bem como a inelutável tendência do ser humano de prejudicar a si mesmo.

Certo de pensar no futuro, o presidente Lula vai à Arábia Saudita para confirmar a sua crença, mas há razões de sobra para desconfiar das intenções de quem o recebe, um governo corrupto a primar pelo total desrespeito aos direitos humanos. A Arábia Saudita, neste momento, transcende as meras suspeitas: tornou-se o país mais perigoso em relação à vida do planeta. Não mede esforços para atingir seu propósito e apresenta sua candidatura para ser a sede da próxima Exposição Universal.

Imagem: iStockphoto

Bancou a criação de um campeonato milionário de futebol, com a contratação de astros da bola das mais variadas procedências a usufruir de compensações nababescas. A televisão já se incumbe de transmitir embates disputados em estádios suntuosos a cercarem gramados prontos a acolher chuteiras de ouro. Isso tudo faz parte da encenação e todo cuidado é pouco a lidar com estes senhores envoltos em panos imaculados. Quanto ao petróleo, trata-se, simplesmente, do fator mais imponente da poluição atmosférica.

O futuro é o carro movido a energia elétrica. Na Itália, ­tudo começou com o lançamento de um carro de luxo, o ­Lamborghini, com pleno êxito. É o ensaio inicial de uma vasta operação para popularizar o produto como convém. A desfaçatez crônica de origem brasileira caracteriza o lançamento de carros elétricos no mercado do País, e não há como levar a sério este pretenso intento de marca nativa.

Faoro conhecia o caminho das pedras – Imagem: Luis Alberto/Agência O Globo

O interesse pelo petróleo é uma praga que não poupa, por exemplo, nem a Venezuela de Nicolás Maduro, empenhado neste momento em se apossar das jazidas de petróleo e outros minerais da Guiana contra a vontade dos Estados Unidos, voltados para o mesmo propósito. Como vemos, o homem teima em confirmar a busca obsessiva pela herança do passado remoto. Uma indicação preciosa das apostas erradas do mundo é a COP28, encontro sediado em Dubai, nos Emirados Árabes, destinado oficialmente a discutir os problemas do meio ambiente, enquanto, de fato, o assunto principal acabou sendo o preço do bem-amado combustível e seus derivados.

O Brasil fez questão de estar presente com toda a pompa e representação recomendáveis, para acentuar o seu empenho nesta seara. Vale acrescentar que a tal conferência em Dubai contou até agora com a presença de mais de 2,4 mil lobistas, representantes internacionais do setor petrolífero. •

Publicado na edição n° 1289 de CartaCapital, em 13 de dezembro de 2023.

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