Economia

Refinaria privatizada sob Bolsonaro entra na mira do Cade por suspeitas de prática anticompetitiva

Polo foi privatizado em 2021, durante a gestão Bolsonaro, e é investigado por suspeita de vender gasolina e diesel a preços mais altos que a média nacional

Refinaria privatizada sob Bolsonaro entra na mira do Cade por suspeitas de prática anticompetitiva
Refinaria privatizada sob Bolsonaro entra na mira do Cade por suspeitas de prática anticompetitiva
Adriano Machado/REUTERS
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Os integrantes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, vão analisar, nas próximas semanas, um pedido para reabrir a investigação contra a Refinaria de Mataripe, na Bahia, por, supostamente, vender gasolina e diesel a preços mais altos que a média nacional.

O polo foi privatizado pela Petrobras em novembro de 2021, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Na última semana, um relatório da Controladoria-Geral da União apontou fragilidades na venda da refinaria a um fundo árabe.

A reabertura da investigação é uma demanda do conselheiro Gustavo Augusto Freitas de Lima, apresentada no dia 2 de janeiro. Ainda não há data para que o tema seja julgado no plenário do Cade.

Aberto inicialmente em 2022, o processo chegou a ser encerrado em outubro pela Superintendência-Geral do órgão sob a alegação de que não foram encontrados elementos suficientes da prática anticompetitiva. As primeiras denúncias foram apresentadas ao Cade por três sindicatos do setor.

De acordo com a representação, a Acelen – empresa que controla a refinaria – estaria “impondo ao mercado baiano preços substancialmente mais elevados que os praticados pelas demais refinarias brasileiras”, em virtude de sua posição dominante no mercado regional da Bahia.

Ao defender a continuidade do processo, Freitas de Lima sustentou que as diligências realizadas não tiveram o aprofundamento necessário. E também defendeu que o caso seja analisado por técnicos do Departamento de Estudos Econômicos do Cade.

“Este conselho possui testes específicos para verificar o que é, ou não, uma discriminação de preços”, escreveu em seu voto. “[Os testes] devem ser respondidos com base em provas, diligências e estudos econômicos, não com base em simples argumentos retóricos ou opinativos”.

Para o conselheiro, os preços dos combustíveis têm efeitos que se irradiam em outros mercados e podem estar prejudicando de indústrias a motoristas de aplicativo na Bahia, caso as irregularidades sejam comprovadas.

Atualmente, o governo Lula (PT) tem avançado nas negociações para reestatizar a refinaria. As propostas ainda serão avaliadas internamente pela Petrobras e precisam passar pelos processos de planejamento e aprovação da empresa.

Venda da Refinaria de Mataripe entra na mira da PF 

A refinaria, localizada em São Francisco do Conde (a 71 km de Salvador), foi vendida ao Mubadala Capital, subsidiária do fundo soberano Mubadala, controlado pela família real dos Emirados Árabes Unidos.

À época, a negociação foi concluída ao custo de 1,5 bilhão de dólares. Auditores da CGU, contudo, identificaram que a análise do valor de mercado da refinaria foi feita no momento em que os valores estavam impactados pela pandemia. Isso, segundo o documento obtido por CartaCapital, pode ter derrubado o preço avaliado.

Agora, a Polícia Federal investiga eventual relação entre a venda do polo e o recebimento de joias valiosas por Bolsonaro com base nos achados da Controladoria, como mostrou CartaCapital.

Isso porque, dias antes da operação, o então presidente recebeu objetos de alto valor de integrantes da família real, como um relógio de mesa cravejado de diamantes, esmeraldas e rubis, além de três esculturas.

O caso também é alvo de um processo administrativo na Petrobras, informou o presidente da estatal, Jean Paul Prates.

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